Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Rejeições históricas a intolerância de Calvino.

Sabemos que a paixão é cega. Quando somos levados por um tipo de paixão, com os seus acertos poderemos acertar, e, com os seus erros que permeiam a vaidade da paixão, fatalmente erraremos.
Não é diferente o que acontece com a “paixão dogmática”. Com ela, zelamos pelos grandes fundamentos doutrinários, e por ela, também, agredimos outros grandes e não menos importantes fundamentos doutrinários.
Podemos perceber claramente esta realidade na ambiência calvinista. Com o dogma inscrito na mente dos discípulos de Calvino, aspectos doutrinários da Bíblia são defendidos com afinco, como por exemplo – a “Soberania do Altíssimo”. Mas, por outro lado, pelo dogma, ou a favor dele, outros aspectos das doutrinas bíblicas são simplesmente ignoradas - como, por exemplo, a misericórdia e a tolerância, que são disposições de corações que tem o amor como preceito primaz.
Por parte da maioria dos partidários do calvinismo, tem-se como aceitável a expulsão dos anabatitas como Hermann de Gerbihan e Benoît d'Anglen, da cidade de Genebra bem como os seus seguidores, e a execução de Servetus, a mando de João Calvino. Eu já ouvi, inclusive, crente diminuindo o peso deste pecado, pecado de homicídio e de intolerância, apresentando-o como normal, porque, segundo o tal, a ação brutal por parte de Calvino e seus partidários, estava em sintonia com o Zeitgeist (Espírito da época).
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Buscando orientação na história, percebi, que esta idéia se tratava de uma falácia, e que a expulsão de religiosos que professavam outro credo e, principalmente a execução de Servetus, foi tida como cruel e descabida, inclusive para os contemporâneos da “República de Genebra”.
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O francês, Sebastian Castellion (1515-1553), um contemporâneo de João Calvino se manifestou contra ele publicando um livro sobe o pseudônimo de Martinus Bellius, atacando a intolerâcia de Calvino demonstrada com muita clareza no sistema despótico que implantou em Genebra.
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Este livro defende o primado da conciência, acima do zelo dogmático. Pelo fato de ser livre a conciência, não era razoável executar pessoas, mesmo que as tais não professassem a mesma fé.
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Castellion afirmou: “Buscar e dizer a verdade, tal e como se pensa, não pode ser nunca um delito. Nada se deve obrigar a crer. A consciência é livre”.
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Contra a intolerância religiosa, e a favor da liberdade religiosa, asseverou: “que os judeus ou os turcos não condenem os cristãos, e que tampouco os cristãos condenem os judeus ou aos turcos... e nós, os que nos chamamos cristãos, não nos condenemos tampouco a uns e a outros... Uma coisa é certa: que quanto melhor conhece um humano à verdade, menos inclinado está a condenar".
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Ele preferiu tratar os hereges, como “aqueles em que não estão de acordo com a nossa opinião”.
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Seu livro “Sobre os hereges", De herectis an sint persequendi”, foi traduzido secretamente para o castelhano pelo Espanhol Casiodoro de Reina (1520-1594).
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A tradução da obra de Sebastian Castellion, foi mais uma prova que a intolerância do despotismo de João Calvino, já cheirava mal em sua própria época – sendo tratada como algo extranho a razão e ao espírito cristão.
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O que motivou Casiodoro de Reina traduzir a obra de Castellion, foi o mal estar gerado pelo o que ele viu em Genebra. Para ele, um discidente católico convertido, adepto ao protestantimo, a ação de Calvino, eliminando Servetus e expulsando os anabatistas, relembrava a inquisição católica.
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Reina nutria a mesma inquietação e sentimento de repulssa ao calvinismo intolerante expresso no livro de Castelion, e foi por isso que ele o traduziu para a sua lingua nativa.
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Sentimento como este declarado por Castelion em sua reação contra o assassínio de Servetus: “Matar um homem não é defender uma doutrina, é matar um homem." Quando os genebrinos executaram Servetus, não defenderam uma doutrina, mataram um ser humano; não prova a sua fé queimando um homem, como fazendo-se queimar para ela” - era o mesmo que nutria a mente de Reina.
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O sentimento anti-intolerante, fez com que Casiodoro de Reina, além de traduzir a obra de Castellion, escrevesse um livro contra a inquisição católica-espanhola. Em seu livro, “Algumas artes da Santa Inquisição espanhola” adotou o pseudônimo de Reginaldus Gonsalvius Montanus.
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Tanto Sebastian Castellion, como Casidoro de Reina tinham aderido as idéias do protestantismo.
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É importande deixar claro, que Casidoro de Reina não defendia as idéias de Servetus, pois ele era um trinitariano convicto ao passo que Servetus era unitarista.
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A adesão por parte dos dois contestadores de Calvino ao protestantismo, é mais uma prova de que a rejeição as práticas impostas pelos calvinistas, era de cunho realmente moral, não política. Realmente tinham como insurportável e entendiam ser anti-cristã, a prática de matar em nome do dogma.
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É de Sebastian Castellion a assertiva que aqueles que matam em nome do dogma, enganam-se a si mesmos. Os tais são piores do que aqueles na qual desejam converter.
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A ação de Sebastian Castellion, de lutar em favor da tolerância repercute até a contemporâneidade. Ele foi relembrado pelo judeu/autríaco Stefan Zweig (1881-1942). Zweig faleceu no Brasil, na cidade de Petrópolis.
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Em seu livro “Castellion contra-Calvino" – uma consciência contra a violência”, presta homenagem a Castellion, considerando-o como um verdadeiro herói, por lutar contra a força despótica e dominante, a favor da liberdade da consciência - a favor da liberdade pessoal de fazer escolhas. Olhando por outro prisma, é uma rejeição a intolerância – já que Zweig, como judeu, foi vitima da intolerância nazista, a exemplo de Castellion, foi um grande opositor a intolerância despótica.
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Depois de tantas vozes contra a vil intolerância, não seria mas sensato, e porque não dizer, mais cristão – fazermos uma reflexão sobre os erros atrozes do passado, afim de que não venhamos a cair nos mesmos?
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Realmente, seria mais interessante, ao invés de defendermos e copiarmos, (mesmo que em menor intensidade) as atrocidades produzida pelo excesso de paixão pelo dogma, rejeitarmos os erros históricos, para que a partir disto, venhamos a escrever um novo tempo, na qual, diferenças intelectivas não sejam sempre interpretadas como agressão a pureza da ortodoxia, e as discordâncias dogmática/doutrinárias, sejam recebidas como pontos de vista, que podem ser usados como provadores da consistência do dogma assumido.
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Élder Benjamin Randall, Fundador da Batista do Livre Arbítrio.


Élder Randall chamou a respiração com dificuldade. Foi a 1808 e fundador Batista do Livre Arbítrio estava a morrer de tuberculose. "Irmão Randal, não se leva mais tempo para morrer, do que você para chegar ao céu?" Perguntou a um ministro que ele estava visitando.
"Não", respondeu Elder Randall. "Já agora estou no céu, e foi através de minha doença: Eu tenho desfrutado da presença de Deus com tudo isso, e isso é paraíso para mim."
Tal como um homem jovem Benjamin Randall tinha pensado que ele era um cristão, enquanto que na realidade houve resistência a Cristo nele. Ele foi para o ouvir o renomado evangelista George Whitefield, que foi pregar na Nova Inglaterra, mas apenas para encontrar falhas; ele acusou o evangelista de ser nada, mas um ruidoso bradador que tentava brincar com as emoções das pessoas.
Sua atitude mudou em 30 de setembro de 1770. No entanto, quando um homem, anunciou que Whitefield estava morto. "Logo que chegou a sua voz meus ouvidos, uma seta da aljava do Poderoso golpeou dentro meu coração, e uma voz mental soou através da minha alma, trovão mais alto do que nunca soou através das minhas orelhas. Os primeiros pensamentos que passaram em minha mente eram ', Whitefield agora está no céu, e eu estou no caminho para o inferno. Nunca mais vou ouvir a sua voz. Ele era um homem de Deus, e eu o tinha ultrajado, ele falou de forma repreendedora. Ele ensinou-me o caminho para o céu, mas eu não o considerei...'"
Este foi um momento crucial na vida de Benjamin que o levou diretamente para o trabalho para o qual ele é famoso. Ao longo de mais de duas semanas, ele viveu no terror, clamando constantemente a Deus por misericórdia. Não até que ele crer no versículo bíblico encontrado na carta aos Hebreus, capítulo nove, versículo 26, que o fez encontrar alívio. "Mas agora na consumação dos séculos, uma vez por toda se manifestou[Cristo] para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
Tal paz veio sobre Benjamin que ele começou a salto com alegria. "Ah, parecia que se eu tivesse dez mil almas, eu poderia confiar-lhes toda a Jesus. Eu vi nEle em um amor universal, uma expiação universal, um apelo universal para a humanidade, e estava confiante de que ninguém jamais pereçeria, senão aqueles que se recusam a obedecê-lo. "
Ele tornou-se membro da Igreja Congregacional que esteve presente à maior parte de sua vida. No entanto, a sua leitura das Escrituras o levaram a pensar que a doutrina Batista era mais precisa. Ele foi batizado como um adulto e ingressou na Batista. Em 1777, ele sentiu que Deus estava lhe chamando para tornar-se um pregador batista leigo. Mas sua migrações espirituais não haviam acabado. Dois anos mais tarde, depois de ter concluido que a visão de sua denominação, calvinista estrita, sobre Predestinação (que alguns homens são previamente escolhido por Deus para ser salvo, e outros poderão ser amaldiçoados) estavam fora de sintonia com o verdadeiro ensinamento bíblico, se tornou o principal líder dos Batistas do Livre Arbítrio nos estados do norte.
Benjamin montou milhares de quilómetros em um ano, ganhando convertidos. Ele era a única, mas, influente força a colocar os Batistas do Livre Arbítrio sobre o mapa do Norte Estados Unidos. Mesmo em sua última doença, a sua preocupação era toda para Cristo. " Ele escreveu para seu povo: "Pela causa de Cristo, meus irmãos, sejamos pequenos, humildes, discípulos da cruz. Observe, que nós não defendemos qualquer novidade, emocionante, abundante, liguagem, doutrina dos homens, que conduza por Cristo em vez de o levar a ele. "
Neste dia, 22 de outubro de 1808, um amigo perguntou ao moribundo Benjamin como ele estava. "Tudo o que espera do Pai é a sua ordem, e a minha alma irá então deixar este corpo", disse o velho santo. Minutos depois ele morreu.
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Bibliografia:
(1) Buzzell, John. Life of Elder Benjamin Randal; principally taken from documents written by himself. Hobbs, Woodman and Co., 1827. Buzzell, John. Vida de Elder Benjamin Randal; tomadas principalmente a partir de documentos escritos por ele próprio. Hobbs, Woodman and Co., 1827.
(2) Mead, Frank S. Handbook of Denominations in the United States. Nashville: Abingdon, 1980. Mead, Frank S. Manual de denominações nos Estados Unidos. Nashville: Abingdon, 1980.
Last updated June, 2007. Última actualização junho de 2007
http://chi.gospelcom.net/DAILYF/2002/10/daily-10-22-2002.shtml-10-22-2002.shtml
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Tradução: Lailson Castanha

Igreja Batista do Livre Arbítrio

OS ARTIGOS DA FÉ
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1. A BÍBLIA – As Escrituras do Velho e do Novo Testamento foram inspirados por Deus, e são nossa regra de fé e prática.
2. DEUS – Há um só Deus vivo e verdadeiro. Ele aparece na natureza como o Criador, Preservador, e Governador Justo do universo; e nas Escrituras como Pai, Filho, e Espírito Santo, ainda como um só Deus, infinitamente sábio e bondoso, a quem todas as criaturas inteligentes devem supremamente amar, adorar, e obedecer.
3. CRISTO – Cristo é Deus manifestado na carne; na Sua natureza divina verdadeiramente Deus, na Sua natureza humana verdadeiramente homem. O Mediador entre Deus e a humanidade, uma vez crucificado, Ele é agora ressurreto e glorificado, e é nosso Salvador e Senhor que está sempre conosco.
4. O ESPÍRITO SANTO – As Escrituras dão ao Espírito Santo todos os atributos de Deus, mostrando assim que Ele é Deus.
5. O GOVERNO DE DEUS – Deus mantém uma sábia e beneficente providência sobre todos os seres e todas as coisas por manutenção da constituição e leis da natureza. Ele também faz atos especiais quando há necessidade para o bem estar do homem.
6. A PECAMINOSIDADE DO HOMEM – O homem foi criado inocente, porém, pela desobediência caiu num estado de pecado e condenação. Sua posteridade, portanto, herda uma natureza de tal tendência que todos pecam e os que alcançam a idade de responsabilidade, tornam-se culpados dos seus pecados perante Deus.
7. A OBRA DE CRISTO – O Filho de Deus, pela Sua encarnação, vida, sofrimento, morte, e ressurreição efetuou para todos uma redenção do pecado que é plena e gratuita e é a fundação da salvação pela fé.
8. AS CONDIÇÕES DE SALVAÇÃO – As condições de salvação são:
1- O arrependimento ou sincera tristeza pelo pecado e a renúncia dele.
2 - Fé ou uma completa entrega, de si mesmo a Cristo como Salvador e Senhor com o propósito de amá-lo e obedecê-lo em todas as coisas. No exercício desta fé que salva, a alma é renovada pelo Espírito Santo, é liberta do domínio do pecado e torna-se um filho de Deus.
3 - Contínua fé e obediência até a morte.
9. A ELEIÇÃO – Deus determinou antes da fundação do mundo a salvar todos os que cumprissem as condições de salvação. A partir daí, pela fé em Cristo, o homem torna-se um eleito de Deus.
10. A LIBERDADE DA VONTADE – A vontade humana é livre e auto-controlada, tendo poder a ceder à influência da verdade e ao Espírito Santo, ou a resisti-los e se perder.
11. A SALVAÇÃO GRATUITA – Deus deseja que a salvação venha a todos, o evangelho convida todos, o Espírito Santo trata com todos, e todos os que quiserem podem vir e tomar da água da vida abundantemente.
12. A PERSEVERANÇA – Todos os crentes em cristo, que mediante a fé perseveram na santidade até ao fim da vida, tem a promessa da salvação eterna.
13. AS ORDENANÇAS DO EVANGELHO – O batismo pela imersão dos crentes nas águas, a Ceia Do Senhor e o Lavar dos Pés são ordenanças de obrigação universal e para todos os crentes.
14. O DÍZIMO - Deus ordenou o dízimo e as ofertas no Velho Testamento e Jesus Cristo o apoiou no Evangelho (Mateus 23:23)
15. O DIA DO SENHOR – A lei divina exige que um dia em sete seja separada do serviço e divertimentos seculares, para descanso, adoração, obras e atividades cristãs e para comunhão pessoal com Deus.
16. A RESSURREIÇÃO, JUÍZO E RETRIBUIÇÃO FINAL – As Escrituras ensinam a ressurreição de todos os homens. Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação; então, os que fizeram o mal irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.(1)
Quem são os Batistas do Livre Arbítrio?
As raízes da Igreja Batista do Livre Arbítrio podem ser encontradas na Inglaterra ao longo de 1611.
A primeira Igreja Batista do Livre arbítrio na América, foi iniciada por Paul Palmer em 1727 no Condato de Perquimans. Alguns anos mais tarde, em 1780, sob a liderança de Benjamin Randall, os Batistas do Livre Arbítrio, na América tem tido um ministério sólido. Hoje, a Associação Nacional dos Batistas do Livre Arbítrio está ativa em 42 estados, em 14 países estrangeiros, e em uma série de ilhas marítimas. O trabalho da Associação Nacional dos Batistas do livre Arbítrio é promovido a partir de Escritórios Nacionais e da Escola Dominical da Igreja e formação, departamento localizado em Nashiville, Tennessee.
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Breve História.
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As origens da atual Batista do Livre Arbítrio pode ser atribuida a dois distintos começos. A maior parte vem do sul do movimento que surgiu na colônia Carolina do Norte,sob a liderança de Benjamin Laker (ativo na década de 1680) e Paul Palmer ( ativo na década de 1720), que foram os Batistas Gerais Ingleses. O movimento surgiu espontâneamente no norte da Nova Inglaterra em 1780, quando Benjamim Randall foi expulso de uma igreja Batista Calvinista por causa de seus pontos de vista arminianos.
A maioria dos das igrejas na Conferência Geral Batistas Livres (originalmente Batistas do Livre Arbítrio) no norte, fundia com a Convenção Batista do Norte, em 1911. Aqueles que permaneceram, Batista Livre organizaram a Associação Geral da Co-operação Batistas do Livre Arbítrio. A Associação Nacional dos Batistas do Livre Arbítrio resultou da fusão entre este grupo e o seu homólogo maior, a Conferência Geral dos Batistas do Livre Arbítrio.(2)
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(1)Extraído do 1 Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil
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ttp://www.ibl-bh.org.br/artigos.html
http://www.evfwbc.org/What_We_Believe.html
(2) Tradução: Lailson Castanha

Teologia alegórica.

Podemos afirmar com segurança que o ser-humano é um ser especial, mais rico e importante de qualquer outro ser existente no planeta, pois as Escrituras corrobora essa afirmação.
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O ser humano é diferenciado por ser um ser “racional e moral”. Um ser que não se limita aos instintos, mas por ser racional, extrapola, criando e transformando as coisas para o seu conforto.
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Como peculiaridade desse ser, temos a linguagem. Ou seja, o homem se comunica de forma diversificada, hora se expressa de forma direta, hora de forma alegórica ou tipológica. Independente das formas, o homem se comunica racionalmemente; com isso queremos dizer, que sua expressão tem uma razão de ser.
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Parte do que o homem conhece, advém da comunicacão exercida por meio da linguagem. O homem através da linguagem adquire um conhecimento por vezes adequado e por vezes inadequado.
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Platão, através do mito da caverna, já destacava o distanciamento existente entre o conhecimento vulgar, e o verdadeiro conhecimento. A exemplo dos habitantes da caverna alegórica, os homens, em sua maioria, vive as sombras, e todo e conhecimento que tem das coisas que os cercam, não passam de sombras, ícones, ou quando muito, não passam de realidades parciais.
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O grande problema, é que os tipos visualizados são interpretados, pela grande maioria dos homens como realidades dadas, por isso se conformam, achando deter o verdadeiro conhecimento.
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Platão, interpretando a alegoria da caverna, distingue o conhecimento em vários estágios.
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O primeiro e mais baixo estado do conhecimento é o estado de EIKASIA, quando o homem acredita que a imagem da imagem é o que é, por si mesmo existente.
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O segundo estado de conhecimento, é o estado de PISTIS, quando o homem avança do primeiro estágio, mas se contenta em acreditar que os objetos reais são a totalidade da verdade.
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O terceiro é o estado de DIÁNOIA, que é o estado de intelecção e de reflexão, em que o homem se desprende da aparência, e, pode chegar até o quarto estado, que é o estado de pura razão, estado de NONSIS.
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Quando o homem está nos dois primeiros estados do conhecimento, ele se encontra no campo da DOXA, ou seja, no campo da opinião, mas, quando o homem avança para a DIÁNOIA ou já se encontra no estado de NONSIS, ele está no campo da EPSTEME – do verdadeiro conhecimento, da pura ação.
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Quando estudamos teologia, vemos a abordagem tratada por Platão ganhar corpo.
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Podemos ver o homem se apegando aos ícones do estado de PISTIS como coisas reais, como coisas em-si, observando por exemplo, a interpretação dada à Romanos 9 pelos calvinistas, principalmente no enfoque do vaso e do oleiro.
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O que seria uma alegoria, ganhou literalidade, ao ponto de se tratar o homem realmente como um vaso, destituido de razão e Deus a um Oleiro, impossibilitado de relação com o homem-vaso. O que seria uma alegoria ilustrativa, dada como resposta aos judaizantes, que não admitiam que os gentios recebecem a extensão da graça de Deus, para eles apenas dada aos filhos da promessa patriarcal, se transformou, na exegese calvinista numa realidade dada.
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O mesmo erro dos judeus, que interpretaram a salvação apenas no limite legal de sua lei, é repetido, só que agora, os filhos da promessa evocados pelos judaizantes, são os, na abordagem calvinista eleitos incondicionais, ou os vasos de misericórdia. Assim como para os judaizantes, o privilégio de receber as bênçãos Deus se restringia a eles, e consequentemente tratavam os gentios como um povinho, impossibilitado de serem abençoados pelo Altíssimo. No calvinismo a salvação é restrita absolutamente aos eleitos incondicionais e a reprovação aos absolutamente reprovados incondicionais ou “vasos da ira”.
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Se vaso é uma imagem da imagem - EIKASIA, não é real em-si, só faz sentindo quando ele nos leva a observar o objeto na qual ele ilustra. Destarte, o homem verdadeiro não é um vaso, e deve ser tratado e entendido de modo diferenciado. Deus também não é um oleiro. O oleiro da alegoria é apenas um espectro de alguém muito mais dinâmico, que tem poder de criar e se relacionar, e não se limita a empresa de criar e destruir. Destrói um vaso como alguém que reprova, e aproveita outro vaso como alguém que aprova.
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O homem não é um vaso, na alegoria, o vaso como ilustração, tem o propósito de destacar o homem como alguém inferior ao seu criador, que não conhece com propriedade a realidade das coisas que o cercam. Um vaso é destruido devido a alguma falha percebida pelo criador e é aprovado devido a algum bem destacado pelo oleiro. Quando é tratado como um vaso para a ira, significa que foi levado em conta, pelo oleiro as escolha e contigências de sua vida.
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A imagem da imagem, deve ser tratada como tal, jamais podemos dar vida própria a elas, pelo simples fato delas não a terem.
É tão real o fato de terem as alegorias o seu limite, que o povo sendo tratados como vaso, em contraponto são tratados como povo - gente/pessoas. O apóstolo Paulo afirma que, Deus suportou com muita paciência os vasos da ira, não desferindo sua ira em tempo inoportuno. Fica claro nesta expressão que o tratamento é dinâmico relacional, não-estático, Deus suporta os vasos da ira, os vasos que lhe desagradam, com muita paciência – por outro lado, só lhe desagradam porque fugiram do propósito do oleiro, de ser um bom vaso. Se o próprio Deus criasse um vaso para ser destruido, este vaso alcansando o seu intento, lhe daria prazer, porque foi feito segundo o modelo proposto pelo oleiro.
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Os vasos de misericórdia são os que agradaram o criador, segundo a graça que lhes foi concedida. Se o primeiro exemplo, sendo tratado pelo mesmo oleiro foram dispensados, saindo da alegoria e indo para o próprio objeto do escritor da epístola, podemos afirmar, que não se entregaram de forma devida aos cuidados da graça. O segundo exemplo, são os que efetivamente se entregaram aos cuidados da graça, por isso foram aprovados por Deus.
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A mesma dinâmica se refere aos vasos de honra e de desonra que cito a seguir: "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?"(Rm.9.21).
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Estes enquanto alegoria são vasos, e são usados apenas para ilustrar que é Deus que determina o limite existencial dos homens. Vejamos que a mesma figura usada em outro texto, os vasos podem mudar de posição ou de graduação significando que sua posição é determinada condicionalmente por Deus, como bem nos indica o texto:
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"Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra"( 2Tm.2.20,21.).
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Outra idéia de relação entre Deus e os homens, mesmo os que na alegoria são os vasos de misericórdia está na ressalva da paciência de Deus como garantia da salvação, eliminando a hipótese do tratamento monológico de Deus com a humanidade. "(...) tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada;" (2Pe.3.15).
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Se apropriando mais uma vez do diagrama da linha usado para explicar degraus do conhecimento, podemos falar que o homem preso no campo da DOXA, entre PISTIS e EIKASIA, jamais entenderá o conhecimento elevado da EPSTEME em seu mais alto grau, na NONSIS ou pura razão. Esta era a difilcudade dos judaizantes em entender as ações de Deus em relação as promessas pactuais e a extensão da graça ao povo gentílico.
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Vamos propor uma visita a outras alegorias bíblicas, que nos mostrarão a dinâmica de uma relação de condicionalidade entre Deus e o homens, já se apropriando das assertivas bíblicas que nos levam a crer que Deus , "recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas." (Rm.2.6-11).
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Estas alegorias dismistificam a relação estática entre Deus e os homens, defendido pelos grupos que estendem a vida das elegorias do vaso do oleiro fora de seu contexto. Vejamos:

"AGORA cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil. E cercou-a, e limpando-a das pedras, plantou-a de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, porém deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja pisada;
(...)Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercesse juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor."( Is.5.1-5-7)
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A mesma dinâmica relacional-condicional pode ser percebida na próxima alegoria:
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"E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque;E, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar."(Lc.13.6,9).
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Fica claro que estas alegorias indicam uma relação condicional entre Deus e os homens, que de nehuma forma entra em choque com as alegorias do vaso e do oleiro que tem outro enfoque, destacando a pequenês do homem diante da grandesa de Deus – sendo que este age com propriedade de causa e o homem pela sua finitude não está apto a questioná-lo, por estar preso ao limite de conhecimento aparente.
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Se Deus usou como instrumento as alegorias que indicavam uma relação de condicionalidade entre Deus e os homens devemos levá-las a sério, da mesma forma que devemos enterder através da alegoria do vaso e do oleiro que Deus é soberano em suas escolhas – pois é ele que conhece a verdade das coisas, agindo com propriedade em tudo o que faz e determina.
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Lailson Castanha

PROPÓSITO E CARÁTER DA IGREJA METODISTA LIVRE

Declaração doutrinária e propósito.
Desenvolvimento, percurso e herança histórica.
Conceitos e costumes da Igreja
Metodista Livre,
uma igreja Armínio-Wesleyana.

.Podemos compreender melhor a Igreja Metodista Livre se tivermos como base o conceito bíblico de Igreja, a perspectiva da sua herança histórica e o seu compromisso com as necessidades humanas.
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O Conceito Bíblico de Igreja
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Está claro nas Escrituras que a Igreja é de Deus e para pessoas. Ela é criação de Deus. Cristo é Sua cabeça. A Igreja é o povo de Deus escolhido para uma firme parceria na realização da Sua vontade na Terra. Mais de oitenta metáforas, figuras relacionadas com a Igreja aparecem no Novo Testamento. Cada uma dessas figuras retrata uma realidade mais profunda do que a simples figura em si. O conjunto dessas figuras esclarece a natureza e a missão da Igreja. O apóstolo Paulo fala da Igreja como “corpo”, “edifício” e “noiva”. A metáfora mais abrangente e talvez mais significativa é a de “Corpo de Cristo”. Os redimidos são chamados de “membros do corpo”.
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Qual é a profunda verdade que as muitas figuras de linguagem comunicam? Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – escolhe um povo redimido numa parceria para compartilhar Suas atividades e realizar os Seus propósitos. A Igreja é o instrumento orgânico e a agência escolhida por Deus para restaurar as pessoas e a sociedade. Ela tem uma missão de amor santo e existe para reproduzir a semelhança de Cristo em todas as pessoas e instituições. Assim, nossa missão pode ser descrita como uma participação com Deus em derramar a santidade e o amor sobre os pecados, sofrimentos e necessidades de todas as pessoas. Essa descrição da nossa missão se aplica tanto ao individual como ao social. Ela aponta para um relacionamento de todas as pessoas com Deus e de uma com a outra, descrito nas Escrituras como “o reino de Deus”.
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As metáforas do Novo Testamento têm o seu clímax na maior de todas as figuras – a Encarnação, Deus feito carne. A Igreja, iluminada pela Encarnação, continua o ensino e o ministério do seu Senhor na Terra.
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Quando a Igreja atua sob o comando do seu Senhor e inspiração do Espírito Santo, dá continuidade à história iniciada no Livro de Atos dos Apóstolos. Muitas são as suas maravilhosas realizações desde o primeiro século, e muitas outras poderão ainda ser realizadas no desdobramento dos atos do Espírito Santo através de pessoas redimidas.
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O Novo Testamento nos lembra que a Igreja visível não é a Igreja ideal. A Igreja é uma parceria divino-humana, compartilhando não apenas o santo amor do seu Fundador, mas também as imperfeições da sua humanidade e, por isso mesmo, está sempre necessitada de renovação. Na redenção, Deus assume com a Igreja o mesmo risco assumido por Ele na Criação ao conceder ao homem liberdade. Como Deus, o Espírito Santo, usou as mãos do apóstolo Paulo em “milagres especiais” e pode usar também a Sua Igreja hoje. Os resultados serão os mesmos: a Palavra do Senhor crescerá poderosamente e prevalecerá (At 19:11, 20).
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Herança e Perspectiva Histórica
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Os Metodistas Livres consideram a história da Igreja no Livro de Atos e os outros escritos do Novo Testamento como sua principal herança. Geração após geração tem nestes registros sua maior fonte de orientação e renovação. Os cristãos lutaram através dos séculos com questões antigas e contemporâneas, da mesma forma que o fazemos agora. A história da Igreja como um todo nos é instrutiva.
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Os Metodistas Livres são fruto de uma linhagem evangélica que pode ser assim resumida: sua herança espiritual se origina de homens e mulheres de profunda piedade pessoal em todas as épocas, que mostraram que é possível manter o calor do fervor espiritual em meio ao paganismo, apostasia e eventual corrupção da igreja organizada.
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A linhagem da igreja Metodista Livre se inicia com o povo de Deus no Antigo e Novo Testamentos e inclui as influências e contribuições de uma multidão de movimentos de renovação no cristianismo ocidental: Wycliff e os morávios alemães (de quem Wesley aprendeu o conceito de “testemunho do Espírito”); a Reforma do século XVI com os seus muitos movimentos de renovação que mutuamente se contrabalançavam, e entre eles as “corretivas” arminianas (que ensinam que a salvação em Cristo é para toda a humanidade, sem limitações, mas que deve ser livremente escolhida); a tradição católico-anglicana; a influência puritana inglesa; a tradição Metodista; e o vigoroso movimento de santidade do século XIX. Deus utilizou esses e outros ao longo das eras para fazer o imutável evangelho cristão conhecido mais claramente. Em suma, os Metodistas Livres identificam-se com a corrente central da história da Igreja cristã, mantendo ao mesmo tempo ênfases evangélicas e espirituais distintas
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As contribuições advindas da história da Igreja podem ser assim detalhadas: a herança da Reforma se reflete no seu compromisso com a Bíblia como a suprema regra de fé e prática, e na salvação pela graça através da fé.
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A herança católico-anglicana aparece em sua consideração com a ordem na Igreja e na apreciação da forma litúrgica. Sua ênfase nos aspectos essenciais da fé lhe dá abertura diante de diferentes visões em questões como modos de batismo e o milênio.
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A herança Metodista é manifesta nos interesses teológicos, eclesiásticos e sociais expressos pelo Reverendo John Wesley e seus associados no século XVIII e reafirmados através do movimento de santidade do século XIX.
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Teologicamente, os metodistas livres abraçam a afirmação Armínio-Wesleyana do amor salvador de Deus em Cristo. Através da graça preveniente, Ele procura trazer todo indivíduo para Si mesmo, mas concede a cada um a responsabilidade de aceitar ou rejeitar essa salvação. A salvação é um relacionamento vivo com Deus em Jesus Cristo, dando ao crente a posição legal de justiça, e, portanto, dá a certeza da salvação a todos os que continuam em comunhão com Ele. Junto com a ênfase arminiana na oferta universal da salvação, John Wesley redescobriu o princípio de certeza da salvação mediante o testemunho do Espírito Santo. Ele declarou uma confiança bíblica no Deus que é capaz de limpar os corações dos crentes do pecado aqui e agora pela fé, de enchê-los do Espírito Santo e de capacitá-los para cumprir a Sua missão no mundo. John Wesley escreveu sobre ele mesmo e seu irmão Charles: “Em 1729 dois jovens na Inglaterra, lendo a Bíblia, perceberam que não poderiam ser salvos sem santidade, foram atrás dela e incentivaram outros a fazerem o mesmo. Em 1737 eles perceberam que as pessoas são justificadas antes de serem santificadas; porém, a santidade é o seu objetivo. Deus então os impeliu a levantar um povo santo”.
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Eclesiasticamente, a organização Metodista Livre foi herdada da Igreja Metodista. Linhas de responsabilidade ligam ministérios locais, distritais, conciliares e denominacionais. Pequenos grupos de crentes prestam contas mutuamente para crescerem na vida e serviço cristãos. Os Metodistas Livres se interessam pela Igreja toda e não apenas pela sua congregação local.
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Eles valorizam a liderança dos bispos, superintendentes, pastores e líderes leigos que oferecem conselho e direção para a Igreja.
Nascidos numa época em que o governo representativo se desenvolvia nas sociedades livres, os fundadores da Igreja Metodista Livre reafirmaram o princípio bíblico do ministério leigo. Os Metodistas Livres reconhecem e credenciam pessoas sem ordenação para ministérios específicos. Eles determinam que a representação leiga seja igual à dos pastores nas Comissões e Juntas da denominação.
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Socialmente, desde seus primeiros dias, os Metodistas Livres possuem uma consciência desperta, característica do movimento wesleyano primitivo. A sua atuação aberta contra a escravidão e o preconceito de classes, inerente ao aluguel de bancos na Igreja para os ricos, demonstrou o espírito do verdadeiro Metodismo. Embora as questões mudem, a consciência social sensível permanece, comprovada pela contínua participação ativa nos assuntos sociais atuais.
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Durante o século XIX, o movimento de santidade, surgido no Metodismo norte-americano e que se propagou por outras nações e denominações, convocou os cristãos a níveis mais profundos de relacionamento com Deus e a um maior interesse nas necessidades da humanidade sofrida. Nesse contexto, o Reverendo Benjamin T. Roberts e outros pastores e leigos do Concílio de Genesee da Igreja Metodista Episcopal no oeste do estado de Nova York, levantaram um protesto contra o liberalismo teológico, o fraco compromisso com questões sociais urgentes e a perda do fervor espiritual.
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Entre 1858 e 1860, vários desses líderes foram excluídos da Igreja Metodista Episcopal sob diversas acusações e alegações. Na realidade, a questão principal era a sua proclamação dos princípios básicos do Metodismo, especialmente a doutrina e a experiência da inteira santificação. Apelos feitos no Concílio Geral de maio de 1860 foram negados. Os excluídos não puderam unir-se a nenhum outro grupo Metodista, pois não havia nenhum que concordasse com eles nas questões que causaram a sua exclusão. Portanto, a Igreja Metodista Livre foi organizada numa convenção de leigos e pastores reunidos em Pekin, comarca de Niágara, estado de Nova York, em 23 de agosto de 1860. O primeiro Concílio Geral realizou-se na segunda quarta-feira de outubro de 1862, em Saint Charles, estado de Illinois, Estados Unidos.
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A Igreja Metodista Livre, desde seu início, expande-se ao redor do mundo através do esforço missionário, do desenvolvimento de mais Concílios Gerais e de uma organização coordenadora mundial.
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Necessidades das Pessoas
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Os Metodistas Livres se entregam à tarefa de compreender as necessidades mais importantes das pessoas, instituições e culturas diversas para poderem ministrar significativa e redentivamente a elas. Na oração sumo sacerdotal de Jesus Cristo, Ele chama os crentes a viverem nesse mundo ativa e inteligentemente, para que o mundo possa ser levado tanto a “conhecer” como a “crer”.
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Os Metodistas Livres estão cientes das forças demoníacas no mundo, que humilham as pessoas, pervertem o bem e levam pessoas e instituições à ruína. Eles procuram ajudar as pessoas restaurando seu valor pessoal numa época de despersonalização cada vez maior.
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Os Metodistas Livres abertamente reprovam qualquer elemento na lei, nas pessoas ou nas instituições, que viole a dignidade das pessoas criadas à imagem de Deus. Eles estão engajados em aproveitar todas as oportunidades como indivíduos, igrejas locais, concílios e denominação, para ministrarem ao mundo a cura e a ajuda redentiva.
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Princípios Distintivos
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Os Metodistas Livres procuram expressar o conceito de Igreja de Jesus Cristo, sua perspectiva histórica e as necessidades das pessoas em princípios e compromissos específicos.
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Os Metodistas Livres procuram continuar hoje a missão do cristianismo do primeiro século, recuperada por John Wesley e os Metodistas primitivos que declaravam existir “para levantar um povo santo”.
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Os Metodistas Livres são uma comunidade de cristãos sinceros no seu propósito de chegar aos céus e comprometidos a trabalhar no mundo pela salvação de todas as pessoas. Sua aliança com Cristo e Sua Igreja está acima de todos as outras. Eles se mantêm livres de alianças que competiriam com a sua mais alta lealdade e de tudo que possa atrapalhar ou comprometer o seu efetivo testemunho da fé trinitariana e da fé na dependência da graça de Deus. O cristão nega-se a si mesmo, dia a dia toma a sua cruz e segue a Jesus. Ele se conforma com toda a vontade de Deus revelada na Sua Palavra e crê que as condições de salvação ainda são as mesmas dos dias dos apóstolos.
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Na doutrina, as crenças Metodistas Livres são as crenças comuns aos evangélicos, ao protestantismo arminiano, com ênfase especial no ensino bíblico da inteira santificação, conforme defendido por John Wesley.
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Na experiência, os Metodistas Livres enfatizam a realidade de uma purificação e poder interiores que provam a doutrina da inteira santificação, tanto na consciência interior do crente como na sua vida exterior.
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O seu culto é caracterizado pela simplicidade e liberdade do Espírito, sem ser limitado por ritual detalhado.
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Os Metodistas Livres mantêm uma vida de devoção diária a Cristo que brota da santidade interior e separa o cristão do mundo, mesmo vivendo no mundo. Crêem que a melhor maneira de impedir a invasão da Igreja pelo mundanismo é a Igreja invadindo o mundo com propósito redentivo.
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Eles consagram completamente todas as forças e bens ao serviço de Deus e das pessoas em todo lugar. Crêem tão firmemente na missão da Igreja que se comprometem a exercer mordomia responsável das suas finanças e por isso, não precisam recorrer a esforços comerciais para sustentar a causa de Cristo
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Os Metodistas Livres reconhecem que Deus concede dons espirituais de serviço e liderança tanto a homens como a mulheres. Visto que homem e mulher são ambos criados à imagem de Deus, tal imagem é mais plenamente refletida quando ambos, mulheres e homens, trabalham em união em todos os níveis da Igreja. Portanto, todas as posições na Igreja são acessíveis a todos que Deus chamar.
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Os Metodistas Livres sentem uma obrigação especial de pregar o Evangelho aos pobres. As provisões do Evangelho são para todos. As “Boas Novas” devem ser proclamadas a cada indivíduo da raça humana. Deus manda a luz verdadeira para iluminar e quebrantar todo coração. Jesus deixou-nos o exemplo. Sobre o Seu ministério foi relatado que “os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres” (Lc 7:22). Essa pregação aos pobres era a prova cabal de que Ele era Aquele que viria. Nisso, a Igreja deve seguir os passos de Jesus.
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Os Metodistas Livres são comprometidos com os ideais do Novo Testamento de modéstia e simplicidade como estilo de vida. Eles desejam chamar atenção, não para si mesmos, mas para o seu Senhor.
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Essas características distintivas da Igreja Metodista Livre vêm de sua origem e ainda são questões vivas. Em todas as épocas e em todo o mundo, essas características são testemunhas da Igreja; precisam ser proclamadas clara e poderosamente para que possam ser ouvidas e percebidas entre as vozes confusas e enganadoras do mundo.
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http://www.metodistalivre.org.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=39&sg=0&form_search=&pg=1&id=302
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ERASMO DE ROTTERDAM, Desidério [1466-1536]. Sobre o livre-arbítrio [1524]


[1] Atenhamo-nos à solução intermediária: existem, sim, obras boas, mesmo que imperfeitas, e das quais o homem pode valer-se sem fazer delas motivo para ensoberbecer-se; existe, sim, algum merecimento, mas é preciso reconhecer que, se foi conquistado, isso se deve a Deus. Quem sabe fazer um exame de consciência terá de abdicar de qualquer pretensão de arrogância ao dar-se conta do quanto a vida humana está cheia de fraquezas, vícios e delitos, mas não iremos tão longe a ponto de dizer que o homem, mesmo se justificado, não é mais que um cúmulo de pecados, quando o próprio Cristo nos fala de um novo nascimento e Paulo, de uma nova criatura.
[2] Mas por que conceder um espaço ao livre-arbítrio? Para ter algo a imputar justamente aos ímpios que voluntariamente se desviaram, escondendo-se da graça divina, para afastar de Deus qualquer acusação caluniosa de crueldade ou injustiça, para afastar de nós o desespero ou a presunção, para impulsionar-nos em direção ao empenho.
[3] Essas são as razões que levaram quase todos os autores a admitir o livre-arbítrio; mas o livre-arbítrio continuaria ineficaz sem a contínua ajuda da graça de Deus, que é exatamente o que nos impede qualquer forma de orgulho.
[4] Mas ainda se poderá dizer: para que serve o livre-arbítrio, se ele nada pode fazer sozinho? Responderei: para que serviria o homem, se Deus fizesse com ele como faz o oleiro com a argila, ou se Deus procedesse com ele da mesma forma que procede com uma pedrinha?
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Triângulo de Platão - BLOG DO PROF. EDSON GIL
http://edsongil.wordpress.com/2007/08/28/erasmo-2/

Significado de Agente Moral e Livre - Uma definição de Eduardo Joiner



Agente quer dizer um ente que age. O agente moral é um ente que age em obediência ou desobediência a uma lei, regra ou padrão de conduta.
Um agente moral e livre é um ente que age com relação a uma lei, obedecendo ou desobedecendo, sem ser obrigado a agir desse modo e com pleno poder de escolher o curso diametralmente oposto daquele que determinou seguir.
A doutrina da livre agência, ou do livre-arbítrio, é a única que concorda com a responsabilidade. Para que um agente seja responsável por qualquer ato, é necessário que tenha o poder de cometer o ato ou produzir o estado contrário.
Com respeito à simples questão da agência humana, não há controversia alguma.
Não supomos que o homem seja absolutamente independente para agir. Nesse sentido, existe apenas um agente no universo: Deus. Só Ele possui o poder auto-existente e independente de agir, quer no mundo físico, quer no mundo moral. O homem e todos os mais entes criados herdaram do Criador o poder de agir, e são dependentes dEle no sentido de sua continuação.
Que o homem é também agente moral todos os que aceitam a revelação como verdade admitem. As ações dos homens têm referência a uma regra de bem e de mal. Ele é capaz de exercitar a virtude ou o vício, e é suscetível à censura ou ao louvor.
Os teólogos do livre-arbítrio, também chamados arminianos por causa do teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609), apresentaram uma teoria sobre a liberdade que julgamos mais harmoniosa com a razão e com o bom senso:
Por agente livre, os arminianos entendem um ente capaz de agir sem ser por necessidade nem obrigado a assim agir por alguma causa exterior – quem possui esse poder tem a própria liberdade.
Deus é um agente livre. Todos admitem que só Deus existe desde toda a eternidade. Visto que o universo foi produzido por um ato divino, quando ainda não existia, senão apenas Ele, segue-se necessáriamente que Deus agiu sem ser obrigado por qualquer causa exterior. Portanto, Ele é um agente livre no sentido exposto acima.
Dizer que qualquer coisa exceto Deus é eterna e existe sem ser causada, no próprio sentido da palavra é filosóficamente absurdo.
A vontade do ser humano, não sendo eterna deve ser o efeito de uma causa, ou seja, o resultado de um poder capaz de produzi-la. Dizer que é sem causa ou que causou a si mesma é um absurdo.
Não se pode negar que um agente pode agir sem ser eficazmente obrigado por alguma coisa exterior a si mesmo sem negar que deus teve poder para criar o universo.
A idéia que todo ato voluntário deve resultar necessariamente de uma causa exterior e eficaz não pode ser sustentada sem que se negue que Deus criou o universo do nada. Para exercer poder criador, Ele teve de querer agir desse modo. E, como nada então existia fora dEle, tal decisão não pode ter resultado de causa exterior.
A questão de suma importância no tema do livre-arbítrio é se o homem é capaz de autodeterminação ou se pode agir independentemente de Deus.
Se o homem tem o poder de autodeterminação, então ele é um agente livre e realmente o autor de suas ações. Se não tem esse poder, porèm, é somente uma mera máquina, tão incapaz como uma estátua ou uma pedra.
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JOINER, Eduardo, Manual prático de teologia. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2004.

Ponderações a respeito do livre arbítrio.

A idéia do livre-arbítrio defendida pela teologia arminiana está em perfeita sintonia com as Escrituras. Logo no início da narrativa bíblica, vemos em Adão, o homem desafiado a praticar a sua liberdade de escolha, sendo essa escolha, uma escolha avaliada. Deus deu ao homem sua diretriz, mas permitiu que o homem não a seguisse. Em toda a trajetória do povo israelita, podemos observar o povo sendo colocado diante da responsabilidade da escolha, como os textos citados:
“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,Amando ao SENHOR teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o SENHOR jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar”.(Dt.30. 19, 20).Como vemos também em Js .24.15: - “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR”. OU "...se não prepuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome(...)enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas bênçãos"(Ml.2.2). Observe que a sentença acima, começa com um conectivo condicional (“se”). Podemos ler também Ez.18.23, 32 e Ez. 33.11 na qual eu transcrevo: - "Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?"
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Vamos também ao Novo: "E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecerE a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós.Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;E não quereis vir a mim para terdes vida."(Mt.37-40) – Mais uma vez, podemos perceber uma ação condicional, em outras palavras se quisésseis vir a mim, teríeis vida. Reflita também na lógica textual de IIPedro.2 Podemos perceber escolha pessoal, e reprovação de Deus, justamente porque houve uma escolha real. Vejamos alguns trechos: 1_ "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. (...)20Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro.21Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;22 Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama."
Mt23.37, nos mostra mais uma vez a ação do livre-arbítrio humano: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Outro exemplo bem claro de que existe uma condição para sermos salvos: O Senhor está convosco, enquanto vós estás com Ele: se o buscardes Ele se deixará achar; porém se o deixardes Ele vos deixará",(2Cr.15.2b).
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Em qualquer definição clássica arminiana o livre arbítrio, é definido como: Capacidade de exercer juízos. Quanto a problemática por muitos levantada por alguns partidários do calvinismo, que o homem é responsável pelas escolhas feitas, mas não tem capacidade de se desvencilhar de sua tendência depravada – o sistema arminiano tem uma resposta plausível.Em primeiro lugar, alguém só pode ser responsabilizado por escolhas feitas, se, efetivamente pôde escolher. O que entra em questão, é que Deus disponibiliza os meios da graça, que é estendida a todos os homens. Os que permanecem no erro são aqueles que resistem ao Espírito. Quando Josué afirma que o povo não pode servir ao Senhor porque é Deus Santo, com essa afirmação ele indicava que o povo só poderia servi-lo se santificando também, ou seja, não podiam continuar na atual condição e ao mesmo tempo servir ao Senhor. Observemos o que ocorreu depois: Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o SENHOR tinha feito a Israel.Deus provê os meios que possibilitam a santificação, o livre arbítrio se dá apenas no, acatar ou não os meios que Deus oferece. Ou seja, Deus oferece-nos a capacidade para servi-lo, mas muitos resistem, e por isso, serão rejeitados.”Porque o coração deste povo está endurecido, de mal grado ouviram com os seus ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, entendam com o coração se convertam e sejam por mim curados.”(Mt.13.15)
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James Arminio recorria a Agostinho quando este afirmava, que o livre arbítrio do homem é afetado pela sua sensualidade, que o homem sendo escravo de sua concupiscência usara sempre o seu livre arbítrio de forma viciada. A graça de Deus possibilita na pessoa de Cristo e por intermédio de Seu Espírito, que o homem conheça o seu vício e o rejeite, mas, apesar de convencer do erro, não obriga o homem a fazê-lo, este terá de usar o seu livre arbítrio. A própria Escritura afirma que Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras.Se for Deus que irresistivelmente convence e determina a sua salvação, que sentido teria o galardão dado a aquele que vencer – se foi ele mesmo que, indiferente às escolhas do homem, o predestinou para a salvação? A mesma idéia dá-se para a punição. Se for Deus que absolutamente rejeitou o homem, que sentido faria o julgamento, já que foi ele mesmo que impediu que o homem seguisse outro caminho? É isso que assevera a dupla eleição.Quando Jesus declara que as sua Palavras não permaneciam nos Judeus, ele complementa que isso acontecia porque eles não criam em Deus, ou seja, preferiam se apegar as suas próprias idéias. Tanto que os direciona as Escrituras, mas: E não quereis vir a mim para terdes vida. Vejamos, Jesus afirma que eles não querem a Cristo, nisto está explícito e livre arbítrio, não existindo o livre arbítrio a afirmação seria diferente, possivelmente nesses termos: a minha palavra não permanece em vocês porque eu impedi, ou, porque vocês não foram eleitos. Muitas vezes é aproximado impropriamente o fato da morte de Lázaro, morte física, com a alegoria da morte espiritual, coisa essa indevida. Sendo usada a história de Lázaro, e de sua morte física como figura para morte espiritual, nos depararemos com uma nova morte física de Lázaro, coisa incompatível para os calvinistas. Jesus no fato de Lázaro quis mostrar o seu poderes diante da morte, não podem estender esse fato a uma outra idéia.
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A Bíblia diz que Deus encerrou a todos na desobediência para usar de misericórdia para com todos(Rm.11.32), todos são mortos em seus delitos, isso não significa que perdemos a nossa razão. A humanidade está morta porque não consegue agradar a Deus, morta em seus delitos e pecados, não significa que não conseguimos raciocinar. O apóstolo Paulo fala de alguns que tendo rejeitado a boa consciência vieram a naufragar na fé. Ou seja, usaram mal o seu livre arbítrio. Fazer escolhas é ter livre arbítrio, agora, para se fazer escolhas corretas, é preciso acatar o convencimento do Espírito, não resistindo a ele, como fizeram os que naufragaram na fé. Essa possibilidade é tão real que os apostos diariamente exortavam aos crentes para que os tais se cuidassem para não caírem e se desviarem da fé. ”examinai-vos a vós mesmos se ainda estais na fé,; provai-vos a vós mesmos”.(2Co.13.5a)É afirmado que o livre arbítrio é apenas pressuposto, mas pense comigo, para que Deus, através dos profetas e das Escrituras chama o homem ao arrependimento, se o livre arbítrio não é real? Se fosse diferente, que utilidade teria as ameaças, ou o julgamento, se as escolhas do homem não são reais? Diz o Eclesiastes: Deus fez o homem bom, mas ele se meteu em muitas astúcias”(Ec.7.29). Quando o homem se rebela contra a condição natural dada por Deus, que o fez bom, acaso não usou ele o seu livre arbítrio, para se rebelar contra Deus e seguir a sua vontade? Reafirmo, junto com Aquino, que nossas escolhas indicam o nosso livre arbítrio. (1)"Ora, discernir ou julgar é ato da virtude cognitiva. Logo, o livre arbítrio é potência cognitiva”. Mesmo sendo influenciado, o homem pode residir a uma influência e ceder a outra. Pode reter a sensualidade se submetendo ao Espírito, ou pode resistir ao Espírito se submetendo a carne.
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O filósofo Immanuel Kant afirma quanto às possibilidades, que “dever é poder“, ou seja, se devo fazer alguma coisa é porque existe um meio que disponibiliza essa potencialidade. Quando Deus exige que escolhemos virtuosamente, é porque ele oferece o meio a todos. Todos são indesculpáveis por que Deus ofereceu as possibilidades de agirem diferentemente.Quando é afirmado que: se creres verás a glória de Deus, é porque de alguma forma em Cristo, na pessoa do Espírito Santo poderemos crer, basta-nos pedir – “aumenta a minha fé”.Quando citamos as asseverações das Escrituras que afirmam: “terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia”, não podemos isolá-las de seu contexto. Essa resposta, usada por Paulo como ilustração, foi dada a Moisés, quando este intercedia pelo povo Israelita. A resposta e o sentido usado por Paulo é o seguinte: É Deus que conhece a motivação dos homens e não Moises – por isso Deus respondeu dessa forma a ele que intercedia obstinadamente a um povo duro de coração – esse é o texto que o apóstolo Paulo evocou nas escrituras – não pode ser usado fora do contexto.
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Lailson Castanha
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(1)São Tomás de Aquino. Suma Teológica. Tradução: Alexandre Correia. Edição eletrônica Permanência.
http://sumateologica.permanencia.org.br/

Idéias bíblicas que corroboram o arminianismo.


Podemos facilmente encontrar na Bíblia várias idéias que corroboram os enunciados de Arminio, contra a realidade imposta e fatalista, e também de sua crença na existência do livre-arbítrio humano. Adrede, observarmos nas Escrituras, as seguintes idéias:
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Deus como juiz – revelando-nos a existência da condicionalidade em relação à salvação ou punição.
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Advertências - destacando a necessidade do esforço humano para se manter em pé.
Ira de Deus - indicando que o homem pode resistir e seguir caminhos contraditórios à sua vontade
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Resistência do homem – deixando clara a idéia do livre arbítrio.
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A primeira idéia que destaco, reside no fato de Deus ser juiz e conseqüentemente executar juízo. Se não existe livre-arbítrio humano, porque Deus julgará o homem? Se a interpretação sobre os vasos para honra e para desonra endossa o pressuposto que Deus na sua inquestionável soberania preparou pessoas para receberem sua graça e outras para a condenação, por que existem tantas advertências endereçadas aos santos como: "vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da "(Mc.13.35); ou, "aquele que está em pé cuide para que não caia"(1Co.10.12), "guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa"(Ap.3.11); ou que sentido faz a "ira de Deus" sendo que Ele mesmo na sua inquestionável vontade direcionou a nossa sorte!? Qual a explicação para a parábola da "Grande Ceia" onde está gravada a máxima: "muitos são chamados, mas poucos os escolhidos?” A lógica do livre-arbítrio ganha corpo em textos como: "Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos como a galinha ajunta os pintos e tu não quiseste” (Mt.23.37), ou no texto de Ezequiel 18.23, "Acaso tenho Eu prazer na morte do perverso?-diz o Senhor; não desejo eu, antes que ele se converta de seus caminhos e viva" -"homens de dura cerviz vós sempre resistis ao Espírito Santo"(AT.7.52), dos vários textos encontrados, citei apenas alguns. Estas citações bíblicas, além de endossar a idéia do livre-arbítrio, mostram-nos um Deus compassivo, que busca o homem por amor, sem nunca forçá-lo, esperando que o tal a partir de seu convite e da aceitação de sua santa influência se arrependa de seus pecados e se volte a ele voluntariamente aceitando assim a Sua Santa Intervenção (Jo.3.16).
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Lailson Castanha

Deus como juiz e a lógica do arminianismo.


Deus é juiz,e assim sendo, Ele julga e julgará.Biblicamente sabemos que Ele não só julga,mas que age com eqüidade, não fazendo acepção de pessoas.Essa é uma das verdades bíblicas, em que se assenta a lógica do arminianismo e do livre-arbítrio. .Se Deus como juiz privou-nos da liberdade de escolha, e, pior ainda, se ele que decretou “ser o que somos", onde podemos encontrar sentido para um julgamento, já que em nossa existência foi-nos ocultado o caminho da virtude.
.Se Deus, por seu decreto escolheu que suas criaturas trilhassem um caminho errante, por que julgar o mundo que ele mesmo preparou para o erro!?
.Se Ele não faz acepção de pessoas por que escolheu algumas pessoas em detrimento a outras?
Contrariando os pressupostos calvinistas podemos encontrar na Bíblia vários trechos que ressaltam a responsabilidade do homem em relação a sua salvação.Estes textos nos direcionam a seguinte idéia: mesmo sabendo que não temos méritos na nossa salvação, devemos agir em prol da graça de Deus, primeiramente acatando o convencimento do Espírito Santo que nos faz entender que precisamos de Cristo, e também perseverando e guardando com zelo o que nos foi oferecido.
Creio que a eleição bíblica é baseada em como acatamos a graça que nos foi oferecida, e não de uma forma fria e arbitrária.Em Ez.18.23, Deus, através do profeta pergunta, para ele mesmo responder:"Acaso, tenho Eu prazer na morte do perverso?-Diz o Senhor Deus;não desejo eu, antes que ele se converta de seus caminhos e viva? Em outro texto,Jesus através do apostolo João faz o seguinte convite:"Aquele que tem sede venha,e quem quiser,receba de graça a Água da Vida(AP.22.17b_ ). Todos pecamos e precisamos da graça de Deus para sermos redimidos. Deus sendo um justo e compassivo juiz oferece remissão a todos os homens. Aqueles que crendo, aceitarem a sua oferta serão redimidos.
Nessa igualdade de condições, ou seja, sua oferta a todos os homens resultando numa absolvição criteriosa de salvar apenas os que crerem e aceitarem sua oferta, é que se fundamenta o verdadeiro amor e a justiça de Deus.
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Lailson Castanha

Quatro visões – sobre as passagens de advertências de “aos Hebreus”.


Este é o mais recente capítulo da célebre série “Quatro visões”, que freqüentemente vem debatendo as passagens de advertências em Hebreus. Das quatro posições, temos o arminianismo clássico, a wesleyana, a reformada clássica e a visão reformada moderada.O formato desta série permite que cada grupo tenha espaço para fazer o argumento a favor de sua posição, e cada um dos representantes inscritos tem a permissão de apresentar as suas observações em resposta a esse argumento.
Fiquei satisfeito com a escolha de um forte expositor para a posição clássica arminiana. Grant R. Osborne traz com base em sua perícia no campo da hermeneutica estabelece a sua exegese das passagens de advertências. Ele apresenta uma possibilidade real de um crente não agradar a Deus e apostatar na fé. Faz uma clara distinção entre dois tipos de apóstatas, aqueles que podem ser trazidos de volta a Cristo e aqueles que são irrecuperáveis.
Osborne vê a questão chave de todas as passagens como advertências, culminando em Hebreus 6.4-8. Ele acha fora do comum a afirmação de que muitos daqueles que são descritos como sendo iluminados, provando o dom celeste, participando do Espírito Santo, provando a bondade da Palavra de Deus e dos poderes do por vir, não serem genuínos crentes. Ele argumenta que, se a passagem fosse situada em Romanos capítulo oito, todos nós estaríamos saudando como a maior descrição de bênçãos cristã encontrada em toda a Bíblia.
O ponto de vista arminianismo wesleyano não é muito diferente do argumento conclusivo do arminianismo clássico. O principal ponto de divergência é na expressão de um maior e maior argumento no livro de Hebreus. Gareth l. Cocherill, discorda da visão do arminianismo clássico de que a ênfase do escritor de aos Hebreus está em contrastar a Antiga Aliança com a superioridade da Nova Aliança em Jesus Cristo, sugere a a certeza da punição para os apóstatas, não tanto o nível da gravidade dos castigos. Cockerell baseia-se fortemente nas ilustrações do Antigo Testamento nestas, nestas passagens, para provar, não existe nenhuma possibilidade de restauração para aquele que cairem da fé. A confusão das gerações e o exemplo de Esaú sugerem que os apóstatas não procuram restauração. Eu aprecio a sua insistência de que uma afirmação sobre a possibilidade de queda e afastamento da fé, não significa que os cristãos estão em constante esforço para “entrar” e “sair” da salvação, como tentativa de reforçar a sombria realidade dessas advertências.
A visão reformada clássica tenta abordar a questão através do estabelecimento de uma precoce compreensão exegética, como uma força condutora para interpretar as advertências. Isso se chama, “abordagem sintética”, aquilo em que interpretamos de acordo com os elementos comuns que podem ser encontrados em todos os temas da epístola.
Infelizmente o centro da discussão gira mais em torno da “garantia” dos fiéis do que as advertências a eles mesmos. Com esta abordagem, é desarmada de todas as advertências a sua gravidade verdadeira. Estando os crentes assegurados, as advertências não podem significar perda da salvação eterna.
Buinst M Fanning admite muita dificuldade em indicar qualquer consenso para a visão reformada, ou qualquer outra visão.
Surpreendentemente ele se desvia do que é talvez a visão reformada mais recorrida, admitindo que aqueles descritos em Hebreus seis são cristão genuínos. Esperaria-se que ele dissesse que estas advertências não são dirigidas aos fiéis, mas aos não crentes, aquém da salvação, que é bem mais próximo de um consenso para a posição reformada.
Sua opinião é de que os crentes irão perseverar porque eles são salvos, e que a terrível idéia da apostasia, não lhes acontecerá. A seguinte contradição está identificada justamente, como apenas uma outra forma de argumento hipotético. Talvez devêssemos destacar e ventilar esta declaração como um indicadosr de que tenha ocorrido uma mudança no pensamento reformado, se afastando da visão mais comum. O argumento exegético para o grego erudito gira em torno de um mandato de prisão, adiantando a uma interpretação de evidência, e evidência para inferência, em vez de de causa e efeito da compreensão dos contrapartes arminianos. Isto significa que passagens como Hebreus 3.6, “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”, não são vistos como uma condição de salvação, mas que a perseverança na fé, até o fim, é a prova de que são participantes de Cristo. Ele afirma ser isto, a chave interpretativa para as passagens de advertências. O argumento mais forte em seu lado é a apelação à coerência dentro da epístola. Fanning vê a totalidade dos temas de Hebreus, como definindo o todo, o que é importante considerar, mas, infelizmente, seu compromisso com a doutrina da salvação incondicional, triunfa e direciona o seu curso exegético.
A visão reformada moderada também surpreende-nos com a afirmação de que as pessoas tratadas nestas advertências são, verdadeiramente, cristãos genuínos. Em uma interessante abordagem, Randall C. Gleasson, mostra a sua acuidade teológica, investigando os exemplos do Antigo Testamento utilizados em aos Hebreus, num nível mais profundo. Ele vê a Bíblia como parte de um contexto maior em que deva ser analisado as passagens de advertências.
Uma vêz que estamos a lidar com verdadeiros crentes, estas graves advertências e as suas conseqüências, é aceita como aplicáveis e não apenas hipotéticas. No entanto, Gleason nega que as punições infligidas seja condenação eterna, mas apenas, perdas terrenas. Ele examina os mesmos exemplos do Antigo Testamento, utilizados mais eficazmente por Cockrell, em sua posição wesleyana, e examina a totalidade dos eventos para chegar a esta conclusão. Um exemplo é a geração do êxodo em Kades. A eles foram negadas a entrada na Terra Prometida. Enquanto que muitos param na passagem de aos Hebreus e traçam um paralelo com a entrada no céu, Gleason não para aí, ele observa que, de acordo com o Antigo Testamento, o povo lamentava profundamente” e que admitiam os seus pecados e a incapacidade de entrar na Terra Prometida. A sua incapacidade para se arrependerem não é visto como uma indicação de que Deus estava indisposto a perdoá-los, tanto que afirmou a Moisés: conforme a tua palavra eu lhe perdoarei ( Nm.14.22). Gleason exemplifica, após o mesmo exemplo do evento do Antigo Testamento, que, o que as pessoas usam para demonstrar a perdição eterna só pode ser mostrado que resultaram somente em punições temporais.
Observando o conjunto deste trabalho, vi uma coisa que me deixou estranhamente chocado. Este livro resulta de uma série de obras, que se dirigem a doutrinas específicas, ou seja, quatro exposições sobre a segurança eterna, cinco exposições sobre a santificação, etc. A idéia foi boa, como acontece com a maior parte destas doutrinas, apenas quatro ou cinco posições se reafirmavam como realmente existentes. Mas estranhamente fizeram um exame em que se transformou o livro inteiro do Novo Testamento, que era uma tarefa difícil em sí mesma. Não teria que procurar muito para achar sem muita dificuldade pelo menos quatro posições dentro do debate quanto a posição wesleyana isolada. Devido a isso, muito das posições dominantes foram excluidas do trabalho, o que nos deixa perguntando se eles pretendiam ver muitas destas diferentes opiniões debatidas neste formato.
Isso me conduziu a algumas coisas que me deixaram preocupado.
Primeiramete fiquei triste ao ver que o único a inquirir sobre Wesley e sua opinião, não era wesleyano nem arminiano, mas o escritor reformado moderado. Ele observa, que muitos wesleyanos podem diferir da visão wesleyana de Cockerell’s, de que uma queda da apostasia é irrecuperável. Quanto a algumas críticas mais moderada da visão wesleyana, de que é impossível que se arrependam, como crucificarar o filho de Deus novamente. Sinto que as réplicas foram generalizadas e inadequadas, ignorando a força do tempo presente.
Em segundo lugar, fiquei bastante incomodado no decurso do debate de Osbourne, o arminiano clássico. Abre mão não só da guerra, mas luta apelando à ignorância.
Após fazer a exegese mais fina de todo o livro, ele afirma que ambos os lados podem fazer argumentos muito fortes para as sua posições e que ele tinha se tornado arrogante em algums de suas posições. Ele cita com aprovação um escritor que afirma: “Quando chegarmos ao céu, espero que deus me diga. Eu nunca pretendi dar uma resposta final”. A única coisa que me deixa com ele é que, devo ouvir outra pessoa, porque ele não tem confiança na sua própria exegese. Enquanto alguns devem estar impressionado com essa humildade, eu prefiria que ele ficasse fora da luta, já que não tem convicções sobre as sua próprias conclusões.
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Jeff Paton
Articulista da revista "The Arminian Magazine"
Pesquisador de escritos teológicos, principalmente wesleyanos e clássicos metodistas.
http://www.fwponline.cc/v25n2/review%20four.html
Tradução: Lailson Castanha

SE O HOMEM TEM LIVRE ARBÍTRIO.

São Tomás de Aquino
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(Supra, q. 59, a. 3; Ia-IIae, q. 13, a. 6; De Verit., q. 24, a. 1, 2; De Malo, q. 6).
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O primeiro discute-se assim. ― Parece que o homem não tem livre arbítrio.
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1. ― Pois, quem tem livre arbítrio faz o que quer. Ora, o homem não faz o que quer como se vê pela Escritura (Rm 7, 19): Porque eu não faço o bem que quero; mas faço o mal, que não quero. Logo, o homem não tem livre arbítrio.
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2. Demais. ― Quem é livre pode querer e não querer, operar ou não. Ora, isso está no poder do homem, conforme a Escritura (Rm 9, 16): Não pertence ao que quer, o querer, nem ao que corre, o correr. Logo, o homem não tem livre arbítrio.
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3. Demais. - É livre quem é causa de si, como diz Aristóteles1. E não é livre o que é movido por outro. Ora, Deus move a vontade, conforme a Escritura (Pr 21, 1): O coração do rei se acha na mão do Senhor, e (Fl 2, 13): Ele o inclina para qualquer parte que quiser; e: Deus é o que opera em vós o querer e o perfazer. Logo, o homem não tem livre arbítrio.
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1 I Metaph. (lect. III).
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4. Demais. ― Quem é livre é senhor dos seus atos. Ora, o homem não o é, como diz a Escritura (Jr 10, 23): Não é do homem o seu caminho, nem é do varão o andar e o dirigir os seus passos. Logo, o homem não tem livre arbítrio.
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5. Demais. ― O Filósofo diz: Tal é um ser, tal é o seu fim que se propõe2. Ora, não por nós mesmos, mas pela natureza, é que somos o que somos. Logo, vem da natureza, e não do livre arbítrio, o buscarmos um determinado fim. Mas, em contrário, diz a Escritura (Ecle 15, 14): Deus criou o homem desde o princípio e deixou-o na mão do seu conselho, i. é, conforme a Glossa, na liberdade do arbítrio.
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SOLUÇÃO. ― O homem tem livre arbítrio; do contrário seriam inúteis os conselhos, as exortações, os preceitos, as proibições, os prêmios e as penas. E isto se evidencia, considerando, que certos seres agem sem discernimento; como a pedra, que cai e, semelhantemente, todos os seres sem conhecimento. Outros, porém, agem com discernimento, mas não livre, como os brutos. Assim a ovelha que, vendo o lobo, discerne que deve fugir, por discernimento natural, mas não livre, porque esse discernimento não provém da reflexão, mas do instinto natural. E o mesmo se dá com qualquer discernimento dos brutos. ― O homem, porém, age com discernimento; pois, pela virtude cognoscitiva, discerne que deve evitar ou buscar alguma coisa. Mas esse discernimento, capaz de visar diversas possibilidades, não provém do instinto natural, relativo a um ato particular, mas da reflexão racional. Pois a razão, relativamente às coisas contingentes, pode decidir entre dois termos opostos, como se vê nos silogismos dialéticos e nas persuasões retóricas. Ora, os atos particulares são contingentes e, portanto, em relação a eles, o juízo da razão tem de se avir com termos opostos e não fica determinado a um só. E, portanto, é forçoso que o homem tenha livre arbítrio, pelo fato mesmo de ser racional.
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2 III Ethic. (lect. XIII).
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DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Como já se disse antes (q. 81, a. 3 ad 2), o apetite sensitivo, embora obediente à razão, pode contudo recalcitrar, desejando o que a razão proíbe. Ora, o bem que o homem não faz quando quer é o que consiste em ser concupiscente contra a razão, como diz a Glossa de Agostinho a esse passo.
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RESPOSTA À SEGUNDA. ― Não se deve entender esse passo do Apóstolo no sentido em que o homem não quer e não corre por livre arbítrio; mas como significando que o livre arbítrio não é suficiente para isso, se não for movido e ajudado por Deus.
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RESPOSTA À TERCEIRA. ― O livre arbítrio é causa do seu movimento, porque o homem, pelo livre arbítrio, é levado a agir. Mas, contudo, não é necessário, para a liberdade, que o livre seja a causa primeira de si mesmo; assim como não é necessário, para uma causa ser causa de outra, que seja sua causa primeira. Ora, Deus, pois, é a causa primeira motora, tanto das causas naturais como das voluntárias. E assim como, movendo-as, não faz com que os atos delas deixem de ser naturais; assim também, movendo as voluntárias, não faz com que os seus atos deixem de ser voluntários, mas antes, causa-lhes essa qualidade, porque obra, em cada ser, conforme a propriedade deles.
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RESPOSTA À QUARTA. ― Diz-se que não está no homem escolher o seu caminho quanto à execução das eleições, nas quais o homem pode ser impedido, queira ou não. Mas as eleições em si mesmas dependem de nós, suposto, contudo, o auxílio divino.
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RESPOSTA À QUINTA. ― Dupla é a qualidade do homem: uma natural; outra, superveniente. ― Aquela pode ser da parte intelectiva e do corpo ou das virtudes anexas ao corpo. Assim, por ter tal qualidade natural intelectiva é que o homem deseja o último fim, que é a beatitude; cujo desejo é natural e não depende do livre arbítrio, como resulta do sobredito (q. 82, a. 1, 2). E é por ter tal qualidade natural, quanto ao corpo e às virtudes anexas ao corpo, que o homem tem tal compleição ou tal disposição, em virtude de determinada impressão das coisas corpóreas, que se não podem aplicar à parte intelectiva, por não ser esta ato de nenhum corpo. Assim, pois, cada um se propõe o fim conforme a sua qualidade corpórea, porque, em virtude desta disposição, é que o homem se inclina a eleger ou repudiar alguma coisa. Essas inclinações, porém, são dependentes do juízo da razão, à qual obedece o apetite inferior, como já se disse (q. 81, a. 3). Por onde, não tolhem a liberdade do arbítrio. ― Mas as qualidades supervenientes são como que hábitos e paixões pelas quais alguém se inclina mais a uma que a outra coisa, dependendo também essas inclinações do juízo da razão. E tais qualidades são, do mesmo modo, subordinadas à razão, enquanto de nós depende adquiri-las, causal ou dispositivamente, bem como excluí-las. Assim que, nada há de repugnante à liberdade do arbítrio.
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São Tomás de Aquino. Suma Teológica. Tradução: Alexandre Correia. Edição eletrônica Permanência.
http://sumateologica.permanencia.org.br/
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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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