Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

1João 2.18,19 não reforça a idéia da impossibilidade de queda da fé.

Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.
Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.
Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.
Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. (1Jo 2.18,19)
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É comum ouvirmos o texto de (1Jo .18,19) sendo usado como pressuposição da idéia da não possibilidade de retrocedência de um homem justo/justicado ao estado de injusto. Essa passagem bíblica, tida como base para a ideia da negação da possibilidade da perda da salvação, por mais que se pareça uma confirmação, e seja usada como tal, não deixa espaço para tal pretensão. Embora, numa leitura superficial, tendemos a interpretar as citadas expressões de João como provas de que todo aquele que é justo permanece, e que, o afastamento de alguém do meio dos justos na verdade é a prova que ele nunca foi verdadeiramente um justo, ou seja, jamais foi alcançado pela graça, na verdade, o texto não direciona o leitor para essa interpretação.
Como bem destaca o companheiro de idéias Paulo Cesar Antunes (1), o qual esta escrita corrobora, o texto joanino apresenta aos crentes destinatários da epístola, a figura coletiva dos anticristos e a do próprio anticristo, portanto, duas figuras, que são apresentadas com o fim de colocá-los em estado de alerta. João nesta epístola, falava “acerca daqueles” ou daquelas figuras, que procuram enganar os fiéis. Sobre eles o apóstolo afirma:
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“(...)Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco;” e “(...)Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.”
João também revelou o propósito das figuras em destaque na seguinte assertiva: “vos procuram enganar.”
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Notemos aqui que o objeto de destaque do apóstolo João, sobre os quais ele colocou uma grande ênfase, não são pecadores comuns, mas anticristos, e como tais, pessoas com propósitos definidos contra os crentes que estavam sob seus cuidados. O propósito dessas figuras era de enganar os “filhinhos” na fé, do apóstolo. Este entendimento abre espaço para outra abordagem.
Sendo aquelas figuras a própria encarnação da malignidade satânica com o propósito definido de enganar os crentes, foi necessário, para própria proteção dos justos, que “ficasse manifesto que nenhum deles” eram realmente justos. Era necessário que fossem desmascarados; a saída deles do meio dos justos foi a própria manifestação de suas iniquidades. De outra forma, se fossem realmente justos, se não fossem os próprios anticristos, se com eles não ocorresse nenhuma inclinação perversa contra os crentes, se não fossem contestadores do Pai e do Filho não haveria a necessidade de saírem, pois não teria nada para ser desmascarado ou manifesto.
Ponderando um pouco mais, compreenderemos que o texto não fala de pessoas fracas na fé simplesmente – e como tais, pessoas que pudessem chegar a algum momento a apostasia. O texto destaca anticristos em atualidade que em atualidade negam o Pai e o Filho e tem com finalidade específica de enganar os crentes; diferentemente de uma pessoa comum que poderá posteriormente cair da fé, que como a próprio indicativo revela, ainda não caída, ainda não apóstata, e, portanto, ainda justa em sua atualidade.
Sabendo que nem toda pessoa que caiu da fé, ou que um dia cairá, intentou, ou intentará diretamente alguma coisa contra os santos, segue-se que, nem todos os que caíram ou ainda cairão, necessariamente passaram ou passarão pela experiência vivenciada pelos anticristos citados por João, de saírem do meio da comunidade de crentes com o fim de deixar manifesto o que realmente eram -, de que não faziam parte do povo na qual se juntavam.
As Escrituras nos esclarece que a pessoa só é efetivamente rejeitada, apenas no momento em que recuar da fé, como bem nos ensina o escritor de Aos Hebreus: “o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.” (Hb 10.36-38). Note que, no texto de João, diferentemente do texto de Hebreus nem recuo houve por partes dos anticristos, pois os tais já entraram no meio dos salvos com a intenção de enganá-los e fazê-los perder a salvação. Os anticristos já entraram no meio dos crentes como anticristos, entraram dissimuladamente com o propósito definido de enganá-los, a situação é muito diferente de quem entra no âmbito da graça e depois se enfraquece na fé.
Devemos nos cuidar para não cairmos no erro de interpretar textos a partir de idéias aparentes, sabendo que isso pode nos levar a equívocos. O texto em que trabalhamos se fosse interpretado a modo do vulgo entraria em choque com a lógica bíblica no que se refere à chamada a uma auto-análise e ao esforço para não cairmos da fé, para confirmar a vocação e eleição. A seguinte exortação de Paulo: "Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos.” (2Co 13.5)
só faz sentido por que existe a possibilidade de alguém que está na fé não permanecer nela. Essa possibilidade registrada nas Escrituras invalida a equivocada interpretação dos textos joaninos que tenta legitimar a idéia da impossibilidade de um justo cair da fé, afirmando, por conseguinte, que se alguém caiu, nunca esteve entre os santos, ao passo que Jesus afirma a igreja de Filadélfia e para todos os que têm ouvidos: "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (AP.3.11), destacando a possibilidade da perda salvação conquistada mais ainda não coroada.
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Lailson Castanha
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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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