Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

sábado, 27 de março de 2010

SOBRE Deus considerado de acordo com sua natureza

Jacobus Arminius

2. SOBRE DEUS CONSIDERADO DE ACORDO COM SUA NATUREZA

1. Deus é bom por uma necessidade natural e interna, não voluntariamente; o qual a última palavra é estupidamente explicada pelos termos "sem constrangimento” e "não servilmente".
2. Deus conhece de antemão as coisas futuras através da infinidade de sua essência e, através da perfeição preeminente de sua compreensão e previsão, e não como ele quis ou determinou que devesse necessariamente ser feito, embora ele não previsse, exceto o que era futuro, e não seria futuro a menos que Deus houvesse decretado a execução ou a permissão.
3. Deus ama a justiça e as suas criaturas, contudo ama a justiça ainda mais do que as criaturas, das quais, resultam duas consequências:
4. A primeira, que Deus não odeia a sua criatura, exceto por causa do pecado.
5. A segunda, que Deus não ama absolutamente nenhuma criatura para a vida eterna, exceto quando considerada justa, seja pela justiça legal ou evangélica.
6. A vontade de Deus é correta e útil em distinguir o que é antecedente e que é conseqüente.
7. A distinção entre a vontade de Deus que está em segredo ou a sua boa vontade, e aquela que é revelada ou significada, não pode ser rigorosamente examinada.
8. justiça punitiva e misericórdia não são, nem podem ser "o único movimento" ou causas finais do primeiro decreto, ou de sua primeira operação.
9. Deus é bendito em si mesmo e no conhecimento de sua própria perfeição.
Ele é, portanto, de nada necessita, nem precisa de demonstração de nenhuma das suas propriedades por meio de operações externas: Mas se ele fizer isso, é evidente que ele faz de sua pura e livre vontade, embora, nesta declaração [de qualquer das suas propriedades] certa ordem deva ser observada
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de acordo com as várias egressas, ou "saídas" da sua bondade, e de acordo com a prescrição de sua sabedoria e justiça.
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Fonte: ARMINIUS, Jacobus. The works of Arminius. vl 2
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quarta-feira, 24 de março de 2010

SOBRE AS ESCRITURAS E TRADIÇÕES HUMANAS

Jacobus Arminius

1. SOBRE AS ESCRITURAS E TRADIÇÕES HUMANAS

1. A regra da verdade teológica não é dupla, uma principal e outra secundária, mas é uma e simples, as Sagradas Escrituras.

2. As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si, e é uma afirmação imprudente ", que são na verdade a regra, mas apenas quando compreendida de acordo com o significado da confissão das igrejas Holandesas, ou quando explicada pela interpretação do Catecismo de Heidelberg.

3. Nenhum escrito composto por homens - por um homem, por alguns homens, ou por muitos - (com exceção das Escrituras Sagradas,) é axiopison "honroso de si mesmo", ou autopison "de si mesmo implicitamente merecedor de credibilidade", e, portanto, não está isento de um exame a ser instituída por meio das Escrituras.

4. É uma afirmação irrefletida, "que a Confissão e o Catecismo são colocados em questão, quando são submetidos a um exame", pois eles nunca foram colocados para além do perigo de serem postos em dúvida, nem podem eles ser assim colocados.

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5. É tirania e papismo controlar a mente dos homens com os escritos humanos, e impedir que eles sejam submetidos a um exame legítimo, mesmo sob qualquer pretexto que a conduta tirânica for adotada.
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Fonte:The Works of Arminius Vol. 2

http://wesley.nnu.edu/arminianism/arminius/v.htm#11.

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segunda-feira, 22 de março de 2010

A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO

Myer Pearlman
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V. A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
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Temos estudado as preparações para a salvação e considerado a natureza desta. Nesta seção consideramos: É a Salvação final dos cristãos incondicional, ou poderá perder-se por causa do pecado?
A experiência prova a possibilidade duma queda temporária da graça, conhecida por "desviar-se". O termo não se encontra no Novo Testamento, senão no Antigo Testamento. Uma palavra hebraica significa "voltar atrás" ou "virar-se"; outra palavra significa "volver-se" ou ser "rebelde". Israel é comparado a um bezerro teimoso que volta para trás e se recusa a ser conduzido, e torna-se insubmisso ao jugo. Israel afastou-se de Jeová e obstinadamente se recusou a tomar sobre si o jugo de seus mandamentos.
O Novo Testamento nos admoesta contra tal atitude, porém usa outros termos. O desviado é a pessoa que outrora tinha o zelo de Deus, mas agora se tomou fria (Mat. 24:12); outrora obedecia à Palavra, mas o mundanismo e o pecado impediram seu crescimento e frutificação (Mat. 13:22); outrora pôs a mão ao arado, mas olhou para trás (Luc. 9:62); como a esposa de Ló, que havia sido resgatada da cidade da destruição, mas seu coração voltou para ali (Luc. 17:32); outrora estava em contacto vital com Cristo, mas agora está fora de contacto, e está seco, estéril e inútil espiritualmente (João 15:6); outrora obedecia à voz da consciência, mas agora jogou para longe de si essa bússola que o guiava, e, como resultado, sua embarcação de fé destroçou-se nas rochas do pecado e do mundanismo (1 Tim. 1:19); outrora alegrava-se em chamar-se cristão, mas agora se envergonha de confessar a seu Senhor (2 Tim. 1:8 ;2:12); outrora estava liberto da contaminação do mundo, mas agora voltou como a "porca lavada ao espoja-douro de lama" (2 Ped. 2:22; vide Luc. 11:21-26).
É possível decair da graça; mas a questão é saber se a pessoa que era salva e teve esse lapso, pode finalmente perder-se. Aqueles que seguem o sistema de doutrina calvinista respondem negativamente; aqueles que seguem o sistema arminiano (chamado assim em razão de Armínio, teólogo holandês, que trouxe a questão a debate) respondem afirmativamente.

1. Calvinismo.
A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre graça.
A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de Deus; o homem absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem, se arrepender, crer e for a Cristo, é inteiramente por causa do poder atrativo do Espírito de Deus. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se corrompeu tanto desde a queda, que, sem a ajuda de Deus, não pode nem se arrepender, nem crer, nem escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de Calvino — a completa servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por conseguinte, não pode ser outra coisa senão a execução dum decreto divino que fixa sua extensão e suas condições.
Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra de Deus, e o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, amenos que o Espírito de Deus opere nele, então, por que Deus não salva a todos os homens, posto que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: Deus predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. "A predestinação é o eterno decreto de Deus, pelo qual ele decidiu o que será de cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição; mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para outros." Ao agir dessa maneira Deus não é injusto, pois ele não é obrigado a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.
Posto que Deus predestinou certos indivíduos para a salvação, Cristo morreu unicamente pelos "eleitos"; a expiação fracassaria se alguns pelos quais Cristo morreu se perdessem.
Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de "uma vez salvo sempre salvo"; porque se Deus predestinou um homem para a salvação, e unicamente pode ser salvo e guardado pela graça de Deus, que é irresistível, então, nunca pode perder-se.
Os defensores da doutrina da "segurança eterna" apresentam as seguintes referências para sustentar sua posição: João 10:28,29: Rom. 11:29; Fil. 1:6; 1 Ped. 1:5; Rom. 8:35; João 17:6.

2. Arminianismo.
O ensino arminiano é como segue: A vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos, porque Cristo morreu por todos. (1 Tim. 2:4-6; Heb. 2:9; 2 Cor. 5:14; Tito 2:11,12.) Com essa finalidade ele oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra de Deus, absolutamente livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de Deus, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu direito de livre arbítrio sempre permanece.
As Escrituras certamente ensinam uma predestinação, mas não que Deus predestina alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina " a todos os que querem" a serem salvos — e esse plano é bastante amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade tem sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da porta da salvação lemos as palavras: "quem quiser pode vir"; quando entramos por essa porta e somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta: "eleitos segundo a presciência de Deus". Deus, em razão de seu conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam salvos, e predestinou para essas pessoas uma herança celestial. Ele previu o destino delas, mas não o fixou.
A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito especulativo, e, sim, com propósito prático. Quando Deus chamou Jeremias ao ministério, ele sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia ser tentado a deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o havia conhecido e o havia chamado antes de nascer (Jer. 1:5). Com efeito, o Senhor disse: "Já sei o que está adiante de ti, mas também sei que posso te dar graça suficiente para enfrentares todas as provas futuras e conduzir-te à vitória." Quando o Novo Testamento descreve os cristãos como objetos da presciência de Deus, seu propósito é dar-nos certeza do fato de que Deus previu todas as dificuldades que surgirão à nossa frente, e que ele pode nos guardar e nos guardará de cair.

3. Uma comparação.
A salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa é salva eternamente? A resposta dependerá da maneira em que podemos responder às seguintes perguntas-chave: De quem depende a salvação? É irresistível a graça?
1) De quem depende, em última análise, a salvação: de Deus ou do homem? Certamente deve depender de Deus, porque, quem poderia ser salvo se a salvação dependesse da força da própria pessoa? Podemos estar seguros disto: Deus nos conduzirá à vitória, não importa quão débeis ou desatinados sejamos, uma vez que sinceramente desejamos fazer a sua vontade. Sua graça está sempre presente para nos admoestar, reprimir, animar e sustentar.
Contudo, não haverá um sentido em que a salvação dependa do homem? As Escrituras ensinam constantemente que o homem tem o poder de escolher livremente entre a vida e a morte, e Deus nunca violará esse poder.
2) Pode-se resistir à graça de Deus? Um dos princípios fundamentais do Calvinismo é que a graça de Deus e irresistível. Quando Deus decreta a salvação de uma pessoa, seu Espírito atrai, e essa atração não pode ser resistida. Portanto, um verdadeiro filho de Deus certamente perseverará até ao fim e será salvo; ainda que caia em pecado, Deus o castigará e pelejará com ele. Ilustrando a teoria calvinista diríamos: é como se alguém estivesse a bordo dum navio, e levasse um tombo; contudo está a bordo ainda; não caiu ao mar.
Mas o Novo Testamento ensina, sim, que é possível resistir à graça divina e resistir para a perdição eterna (João 6:40; Heb. 6:46; 10:26-30; 2 Ped. 2:21; Heb. 2:3; 2 Ped. 1:10), e que a perseverança é condicional dependendo de manter-se em contacto com Deus.
Note-se especialmente Heb. 6:4-6 e 10:26-29. Essas palavras foram dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo não foram dirigidas aos não-regenerados. Aqueles aos quais foram dirigidas são descritos como havendo sido uma vez iluminados, havendo provado o dom celestial, participantes do Espírito Santo, havendo provado a boa Palavra de Deus e as virtudes do século futuro. Essas palavras certamente descrevem pessoas regeneradas.
Aqueles aos quais foram dirigidas essas palavras eram critãos hebreus, que, desanimados e perseguidos (10:32-39), estavam tentados a voltar ao Judaísmo. Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles que, publicamente, fizessem as seguintes declarações (10:29): que Jesus não era o Filho de Deus; que seu sangue havia sido derramado justamente como o dum malfeitor comum; e que seus milagres foram operados pelo poder do maligno. Tudo isso está implícito em Heb. 10:29. (Que tal repúdio da fé podia haver sido exigido, é ilustrado pelo caso dum cristão hebreu na Alemanha, que desejava voltar à sinagoga, mas foi recusado porque desejava conservar algumas verdades do Novo Testamento.) Antes de sua conversão havia pertencido à nação que crucificou a Cristo; voltar à sinagoga seria de novo crucificar o Filho de Deus e expô-lo ao vitupério; seria o terrível pecado da apostasia (Heb. 6:6); seria como o pecado imperdoável para o qual não há remissão, porque a pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não pode ser "renovada para arrependimento"; seria digna dum castigo mais terrível do que a morte (10:28); e significaria incorrer na vingança do Deus vivo (10:30, 31).
Não se declara que alguém houvesse ido até esse ponto; de fato , o autor está persuadido de "coisas melhores" (6:9). Contudo, se o terrível pecado da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos remotamente possível, todas essas admoestações careceriam de qualquer fundamento.
Leia-se 1 Cor. 10:1-12. Os coríntios se haviam jactado de sua liberdade cristã e da possessão dos dons espirituais. Entretanto, muitos estavam vivendo num nível muito pobre de espiritualidade. Evidentemente eles estavam confiando em sua "posição" e privilégios no Evangelho. Mas Paulo os adverte de que os privilégios podem perder-se pelo pecado, e cita os exemplos dos israelitas. Estes foram libertados duma maneira sobrenatural da terra do Egito, por intermédio de Moisés, e, como resultado, o aceitaram como seu chefe durante a jornada para a Terra da Promissão. A passagem pelo Mar Vermelho foi um sinal de sua dedicação à direção de Moisés. Cobrindo-os estava a nuvem, o símbolo sobrenatural da presença de Deus que os guiava. Depois de salvá-los do Egito, Deus os sustentou, dando-lhes, de maneira sobrenatural, o que comer e beber. Tudo isso significava que os israelitas estavam em graça, isto é: no favor e na comunhão com Deus.
Mas "uma vez em graça sempre em graça" não foi verdade no caso dos israelitas, pois a rota de sua jornada ficou assinalada com as sepulturas dos que foram destruídos em conseqüência de suas murmurações, rebelião e idolatria. O pecado interrompeu sua comunhão com Deus, e, como resultado, caíram da graça. Paulo declara que esses eventos foram registrados na Bíblia para advertir os cristãos quanto à possibilidade de perder os mais sublimes privilégios por meio do pecado deliberado.

4. Equilíbrio escriturístico.
As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do Arminianismo, são ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação — e assim o faz a Bíblia; o Arminianismo acentua a livre vontade e responsabilidade do homem — e assim o faz a Bíblia. A solução prática consiste em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista, e em evitar colocar uma idéia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas doutrinas bíblicas são colocadas em posição antagônica, uma contra a outra, o resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada à soberania e à graça de Deus na salvação pode conduzir a uma vida descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm a ver com sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outro lado, ênfase demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação contra o Calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a ilegalidade e o legalismo.
Quando Carlos Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de Deus havia recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem. Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e as obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de Deus. Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de salvar as almas, não temos dificuldades com o assunto. João Wesley era arminiano e George Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a Cristo.
Pregadores piedosos calvinistas, do tipo de Carlos Spurgeon e Carlos Finney, têm pregado a perseverança dos santos de tal modo a evitar a negligência. Eles tiveram muito cuidado de ensinar que o verdadeiro filho de Deus certamente perseveraria até ao fim, mas acentuaram que se não perseverassem, poriam em dúvida o fato do seu novo nascimento. Se a pessoa não procurasse andar na santidade, dizia Calvino, bem faria em duvidar de sua eleição.
É inevitável defrontarmo-nos com mistérios quando nos propomos tratar as poderosas verdades da presciência de Deus e a livre vontade do homem; mas se guardamos as exortações práticas das Escrituras, e nos dedicamos a cumprir os deveres específicos que se nos ordenam, não erraremos. "As coisas encobertas são para o Senhor Deus, porém as reveladas são para nós" (Deut. 29:29).
Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando indevidamente dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança — o poder de Cristo como Salvador; a fidelidade do Espírito Santo que habita em nós, a certeza das divinas promessas, e a eficácia infalível da oração. O Novo Testamento ensina uma verdadeira "segurança eterna", assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, obstáculos ou dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser vencedor em Cristo. Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom. 8:35-39).
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PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da bíblia; Tradução Lawrence Olson. São Paulo: Editora Vida, 2006.
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domingo, 21 de março de 2010

Entre a razão e a loucura.

Passaram-se séculos e séculos, e na mesma movimentação gerações e gerações também passaram. Nesta passagem história muitíssimas ideias foram engendradas e admitidas, como também, posteriormente rejeitadas.
Na era clássica, considerada o apogeu da razão, em terras gregas, nasce a filosofia. As primeiras movimentações racionais, tidas como articulações do pensamento lógico foram registradas naquele lugar e momento histórico. Na ambiência grega, no período clássico, foram registrados os problemas que os homens começavam a levantar, problemas esses frutos de mentes reflexivas, que pediam soluções racionais. Por soluções racionais, podemos entender como: soluções buscadas a partir de ponderações da mente humana, distanciando-se de respostas místicas reducionistas, ou presas nos costumes e nas tradições.
Os primeiros filósofos como Tales, Anaxímenes e Anaximandro de Mileto, bem como Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia buscavam entender a origem das coisas, em palavras comuns, como surgiu o mundo, do que ele foi formado e qual a sua substância fundamental. Questões do Ser e do Devir foram também tratadas, respectivamente por Parmênides e Heráclito, que também aborda a noção de Lógos. Em Sócrates, e posteriormente, com Platão e Aristóteles outras questões foram levantadas, como: política, ética, conhecimento, fundamento da realidade, constituição, características e atributos humanos, arte, essência, contingência, além do início das coisas, entre outras. Os três grandes filósofos citados influenciaram as gerações posteriores, e tiveram os seus pensamentos como pressupostos para os sistemas de ideias que se formariam, tanto que os grandes pensadores do período helênico como os grandes filósofos religiosos medievais tiveram como base para suas filosofias, Sócrates Platão e Aristóteles. Os pré-socráticos Parmênides e Heráclito, também exerceram muita influências na mente dos filósofos posteriores
Fora da Grécia, até mesmo antes de sua da era clássica, também foram registradas muitas agitações do pensamento humano resultando na criação de muitas questões. Por exemplo, as Escrituras Judaicas, narram as indagações do Eclesiastes, atribuída a Salomão, sobre questões da existência como: temporalidade/finitude, o problema da vaidade, injustiça, sabedoria e ignorância entre outras. Nas mesmas escrituras, o problema do mal e da aparente ausência da justiça, são problematizadas no livro do profeta Habacuque. Vemos questões semelhantes nos Salmos, no livro de Jó, e em outros profetas bíblicos.
Voltando a historia Ocidental, a existência, atributos e ação de Deus, passam a ser exaustivamente cogitadas. Na Idade Média, desde o seu início no século IV, com Santo Agostinho, Deus passa a ser problematizado. Os filósofos cristãos, já tendo como pressuposto, a ideia de Deus como regente do universo, herdada da precedente tradição patrística dos primeiros anos da era Cristã, passaram a conjecturar a ideia de Deus, atribuindo-lhes características, estudando atributos tidos como seus e explicando supostas determinações, motivações e decretos divinos, além de tentar explicar o seu ser. A partir deste momento histórico, a filosofia passa a trabalhar ao lado da teologia tendo entre seus maiores articuladores filósofos religiosos, como, o já citado Santo Agostinho (cristão), Santo Anselmo (cristão), Abelardo (cristão),
Averróis (muçulmano), Avicena (muçulmano), Maimônides (judeu), São Tomás de Aquino (cristão). Esses filósofos, além de tratar questões metafísicas, trataram também de questões existenciais, mesmo que pautando suas ideias em realidades ontológicas. Entre essas abordagens, talvez a mais importante seja a questão da liberdade. Afinal, existe livre-arbítrio humano, ou Deus, absolutamente determina tudo?
Num outro momento, na Renascença,(XIII – XVII), talvez mais firmemente no século XV, o homem procurou reavivar a atitude racional, ou seja, a atitude do livre pensar. Esse ato foi uma reação contra o pensamento medieval, preso em pressupostos dogmáticos, que por tal característica, impediam o homem de pensar livremente. Essa tomada de posição favoreceu a empresa científica – que passou a engendrar e alcançar grandes inventos e descobertas. Talvez, Pico della Mirandola (1463-1494), foi o grande impulsionador desse novo momento, quando publicou o seu Discurso sobre a Dignidade do Homem. A renascença patenteou-se como a era da razão e do humanismo.
A era da razão, teve como grande representante o filósofo francês René Descartes (1596—1650). Com o sua cérebre afirmação Cogito Ergo Sun, apresentou a razão, como primazia do saber. O inglês Francis Bacon (1561—1626), por propor a reforma do conhecimento e com isso inaugurando um novo modelo epistemológico, que deu origem a ciência moderna, também foi um nome de grande importância. O advento da Reforma iniciada no século XVI com a tese defendida por Lutero de que o homem podia, por si só, interpretar as Escrituras, sem o auxílio dos bispos da igreja, revigorou ainda mais o sentimento de liberdade e valor humano mesmo não intentando tal fim.
Na esteira humanista figuras como Erasmo de Rotterdã (1446-1536), Luis de Molina (1535-1600) se destacam. Entre suas teses estavam a da liberdade humana, mesmo diante da grandeza de Deus. Em outras palavras, o humanismo defendido por esses filósofos assentava-se na ideia de que a soberania de Deus não eliminava a liberdade do Homem.
Apesar da época, e de seus contornos humanistas, o dogmatismo não deixa de mostrar sua força. O próprio Lutero, outrora defensor da livre interpretação bíblica, lança ataques odiosos contra Erasmo por conta de sua posição favorável a ideia do livre arbítrio. O ranço teológico se acentuou ainda mais, com as pressuposições teológicas de Calvino (1509-1564), principalmente em sua noção de predestinação e eleição. Para ele, Deus absolutamente predestina o homem para salvação ou para danação, sem nenhuma relação com suas ações. Para o homem, ser caído, vítima do pecado original, não restava nada, a não ser se submeter à eleição ou reprovação incondicional de Deus. O pensamento calvinista, a despeito da ambiência renascentista, começa a se tornar intolerante. O teólogo holandês Jacobus Armínius (1560-1609), foi uma das figuras mais atacada pela intolerância calvinista. Defendendo a condicionalidade nos juízos de Deus, a saber, salvação para os que escolhem o seu filho, e danação para os que o rejeitam, foi duramente perseguido por partidários do calvinismo, tendo que, em boa parte de sua vida manifestar seus sentimentos a respeito de questões controversas. Em um dos seus escritos, numa atitude defensiva, procura mostrar que seus sentimentos, além de estar em harmonia com as Escrituras, são corroborados pelos escritos de várias autoridades eclesiásticas, entre elas, alguns pais da igreja, incluindo Santo Agostinho (354-430) em alguns pontos, e São Tomás de Aquino (1225-1274).

Não foi só o pensamento calvinista que se tornou um peso para os filósofos e teólogos de tradição liberal renascentista. Outros ramos religiosos também perseguiram os livres pensadores, dentre eles, o catolicismo com sua inquisição, o judaísmo e o islamismo. A indisposição judaica em admitir livres pensadores tratou o filósofo Baruch de Spinoza (1596-1650) com muita hostilidade. Dantes, tendo sua família perseguida pela inquisição católica, por conta de suas raízes judaicas, fora posteriormente, duramente perseguido e rejeitado pelos judeus, pelo fato de divergir com o conceito de Deus defendido pala tradição judaica, apresentando um Deus ligado a todas as coisas.
Mais tarde um clérigo britânico, adepto do anglicanismo John Wesley (1703-1791), luta por reformas sociais na recém industrializada Inglaterra, que incluiu, entre suas propostas a reforma trabalhista, reforma carcerária, reforma educacional e a abolição da escravatura. Além de se engajar pelas reformas sociais, assumiu a até então vilipendiada teologia arminiana, tendo escrito um texto em defesa do arminianismo e contra a intolerância antiarmiana. Wesley foi o primeiro clérigo a assumir a teologia arminiana. Ademais, foi de sua inspiração que nasceu a Igreja Metodista, pois Wesley, apesar de anglicano procurou viver uma espiritualidade mais intensa, e na vivência dessa espiritualidade incitou um grande avivamento na Inglaterra que inflamou os cristão a se preocuparem com a pessoas ostracizadas da sociedade, pessoas que o meio religioso em que vivia não se importava ou simplesmente ignorava. A Igreja Metodista nasceu como fruto de seu engajamento em prol de uma nova espiritualidade.

No devenir histórico o homem procura o esclarecimento, busca arduamente as luzes da razão. Esse é o espírito do iluminismo (vigoroso no século XVIII), que na ideia de Kant, inauguraria um novo momento na humanidade, em que o homem sairia da menoridade para a maioridade, rejeitaria o hábito de simplesmente acatar ideias alheias, para pensar de maneira autônoma.
Com John Locke (1632-1704), e seu principio liberal, e Dave Hume (1711-1776) e seu empirismo cético, as sociedades pouco a pouco foram se desvencilhando do predomínio do pensamento dogmático, passando a exercer a sua liberdade de pensamento. A assertiva de George Berkeley (1685-1753) de que se o que conhece nada mais é que um feixe de sensações, e que a totalidade do real apenas é percebida por Deus, abriu espaço para que o homem se afastasse das ideias dogmaticamente formatadas – já que, do que se observa, nada se sabe fundamentalmente.
Com a bandeira da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, as barreiras da intolerância, se não foram totalmente suprimidas, foram diminuídas. Nomes como: John Locke (1632-1704) defensor do estado liberal, Voltaire (1694-1778), defensor da liberdade das ideias e crítico da mesquinhez religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que incitou o homem a buscar a liberdade no Estado; Montesquieu (1689-1755), que formulou a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; e Immanuel Kant(1724-1804) que defendeu a necessidade de o homem buscar o esclarecimento, a fim de passar da menoridade para a maioridade, para ser capaz de fazer uso de seus próprios juízos; foram os grandes filósofos do iluminismo.
Se as preocupações dos homens foram se alterando, novos problemas também foram surgindo. Na contemporaneidade, problemas como trabalho, alienação do homem, liberdade, existência, crise civilizatória e pessoa humana; angústia, absurdidade e falta de sentido da vida, ganham contornos expressivos. Søren Kierkegaard (1813 – 1855) rejeitando a estática filosofia hegeliana do Espírito Universal, levanta o problema da existência – com isso a vida passa a ser interpretada como algo dinâmico, e não como ideias determinadas, como partes componentes de um espírito universal absoluto. Também acusou a igreja visível de estar esvaziada de Deus. Depois do filósofo dinamarquês, a questão da existência e do problema do homem enquanto ser existente, esteve envolvida em quase todos os grandes debates filosóficos. A chamada de atenção aos problemas existenciais foi tão forte, que chegou a invadir outros espaços da produção intelectual. A literatura reproduziu o tema, que invadiu também as dependências da religião. Se Kierkegaard levantou o problema da existência, e da angústia do homem envolvido num mundo que não compreende, o alemão Karl Marx (1818 —1883) outro grande e influente pensador, ainda no âmbito da existência, tratou a questão das necessidades materiais do homem existente. Em torno do problema das preocupações existenciais e suas contingências, filósofo, literatos e religiosos foram problematizando e desenvolvendo várias questões, sempre tendo no homem a sua preocupação central. Problemas como o desespero humano, angústia, ansiedade, alienação do homem diante da natureza e do trabalho, despersonalização do homem civilizado, entre outros, foram exaustivamente discutidas em vários círculos intelectuais. Filósofos, teólogos e literatos como: Dostoiévski (1821-1881), Nietzsche (1844-1900), Franz Kafka (1883-1924), Paul Tillich (1886-1965, Gabriel Marcel (1889-1973), Graciliano Ramos (1892-1953), Reinhold Niebuhr (1892–1971), André Malraux (1901-1976), Emmanuel Mounier (1905-1950), J-P.Sartre (1905-1980), Albert Camus (1913-1960), abordaram esses temas com pertinácia e inquietude. Com Tillich a teologia entra nas questões da existência buscando também dialogar com a cultura com o fim de promover uma comunicação da teologia com a sociedade. Advogava que a teologia não pode estar fechada em si mesma, ela deve interagir com a existência e suas demais formas a fim de conhecer os problemas que se apresentam Com ele, as tradições eclesiásticas são tratadas como símbolicas. Tratando questões do transcendente, mas presas em nossa finitude, os ritos e os termos religiosos com a carga expressiva que carregam, são colocados na categoria de símbolo. Defende que Deus não está preso em normas e padrões eclesiásticos, e age inclusive, em variadas manifestações culturais. Mounier por sua vez, reclama da religião desencarnada, e procura instaurar uma civilização personalista e comunitária, onde a pessoa tenha espaço para atualizar a sua vocação, deixando de ser tratada como uma mera coisa. Em relação ao cristianismo, defendia que os valores deveriam ser encarnados, não apenas proferido, a semelhança do lógos que se fez carne, todo o cristão deveria encarnar a palavra que crê e não apenas parolar. Já Reinhold Niebuhr (1892–1971) tratando do problema da falta de controle ético, entendia que isto é um problema desencadeado pela quase que total secularização da sociedade, principiada pelo intenso avanço das ciência físicas e a falta de capacidade de os cristãos ajustar os interesses éticos e espirituais da humanidade em relação a ciência que avança .

Num simplório passeio pela historia do pensamento percebemos a pluralidade de conceitos e ideias que a razão engendrou e que ainda cria.
A história ainda não acabou e nos convida a participar desse intenso debate com o fim de conhecer a verdade, ou chegar o mas perto dela possível. Hoje vivemos um grande problema, não fazemos jus a nossa condição de seres racionais, estamos acomodados nas ofertas do entretenimento fácil e confortável. A televisão e demais mídias estão a nos iludir com informações rasteiras e superficiais. Estas informações, acomodam nosso espírito, enfraquecendo nossa disposição em procurar a verdade e o conhecimento.

Será que não temos mais motivo de encontrar o conhecimento? Será que o que conhecemos já nos basta?

Pelo contrário, muitas questões ainda não foram solucionadas. Problemas éticos, religiosos, filosóficos, teológicos, psicológicos, pedagógicos e sociológicos, só para citar alguns, ainda precisam ser tratados. Não chegamos a maioridade como previa Kant, ainda eufórico e excitado pelo iluminismo. Se não chegamos ainda a era do esclarecimento, devemos parar? Devemos nos resignar? De forma alguma. Como afirmou Jesus, “vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa”.
A mente humana deve ser usada para iluminar as nossas ações, para desvendar a natureza, para levantar problemas e solucionar os problemas que se levantam. Sem problemas levantados não existiriam as respostas a esses problemas. Muito do que já sabemos, são frutos de respostas a problemas levantados por mentes inquietas, mentes que levaram a sério sua vocação de alumiar as trevas da ignorância.
Assim como há trigo, há também o joio, da mesma forma, fazendo-se verdadeiro, existe o falso. Na mesma linha lógica, transvestida de razão está a loucura. Mas qual seria a diferença entre elas? como poderíamos detectar a loucura, já que se apresenta como razão? Me aproveitando da sabedoria de Jesus de Nazaré, com ele, respondo: pelos seus frutos os conhecereis. Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Portando a medida entre o falso e o verdadeiro esta na prova de seus frutos.
Qualquer sistema de ideias que não consegue entrar em sintonia com a razão, não pode ser considerado válido. Os loucos também se pautam em seus sistemas, mas como já disse alguém que não me recordo, são sistemas fechados em seu próprio mundo, não conseguindo servir como respostas a nenhuma questão fora de seus limites particulares, apenas, na mente isolada de tal mente demente.Todas as suas impressões são respostas de seu mundo particular que as tem como definitivas. Daí perguntamos: fora do limite da mente demente, seu sistema de ideias pode responder satisfatoriamente qualquer questão racional?
A mesma indagação deve ser colocada sobre qualquer sistema de ideias, ou seja, o tal sistema pode responder racionalmente as questões que se apresentam na minha existência, ele pode apresentar respostas satisfatórias ou pelo menos respostas racionais? Se o sistema apresenta um amaranhado de ideias que entram em choque com os próprios termos que utiliza, considere-o como insatisfatório, e como tal inapropriado. As contradições sistêmicas quase que em sua maioria invalida o projeto sistemático, principalmente quando se trata de questões fundamentais. Assim sendo, procure os caminhos que os sistemas indicam, se te levarem a satisfação racional, não que isso já seja a resposta definitiva, pode ser considerado, ou ao menos ser comparado com outros sistemas. O perfeito sistema racional tem que se sustentas diante das questões que se apresentam.

A razão humana nunca foi capaz de banir a ação da loucura. Mesmo nas mentes que produziram maravilhosos edifícios da razão, a loucura encontrou espaço para agir e agir de forma engenhosa. As inquisições, violentas perseguições, criadas para satisfazer as exigências dogmáticas frutos de teorias teológicas ou frutos de particulares sistemas filosóficos ou até mesmo de interpretações pessoais, são grandes exemplo que a luz da razão muitas vezes se enfraquece diante da obstinada e poeirenta loucura humana.
A razão muitas vezes, deu espaço para a loucura. Ainda hoje, por exemplo, nos diversos debates teológicos, em nome de dogmas, religiosos se agridem para defender a linha teológica que adotam, políticos não dialogam por conta da bandeira ideológica que ostentam, pessoas se distanciam de seus próximos por diferenças étnicas, sociais, religiosas e nacionais. Diante desse quadro pesaroso, uma proposta se levanta. Que tal usarmos a nossa razão e com ela tentarmos resolver o problema da loucura que vez por outra domina a mente dos homens que se deixam tomar pela vaidade de seus projetos e de suas escolhas?
Ainda há muito o que fazer em prol da razão e do conhecimento, ficaremos parados diante de tal demanda? Nos acomodaremos diante dos confortos do não pensar e da indiferença? Ou nos engajaremos na empresa do pensamento a fim de construirmos sistemas que cada vez mais encurrale a loucura em estreitos espaços, e por consequência, cada vez mais conquiste espaço para a ação da razão humana? Nos inspiraremos nos bons exemplos que nos precederam, ou ficaremos estáticos diante da ignorância que nos rodeia?
Seremos racionais ou viveremos como loucos presos em pequenos e fechados sistemas particulares de ideias que nada de edificante tem a transmitir para a sociedade humana?

Lailson Castanha
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Graça Preveniente (Ou Graça Preventiva ou Graça Salvadora)

Igreja Metodista - Doutrinas
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3. Graça Preveniente (Ou Graça Preventiva ou Graça Salvadora)
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Introdução
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Havendo chegado à conclusão de que o ser humano é pecador, sem possibilidade alguma de, por si mesmo, libertar-se do pecado e recuperar a comunhão com Deus que lhe seria possível em estado de pureza, somos agora levados à pergunta mais importante para a nossa vida: Como podemos nós ser salvos? A resposta está na própria Escritura: "Pela Graça de Deus sois salvos".
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Textos bíblicos:
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• Deuteronômio 30:15-20: diante da Graça de Deus, o ser humano não pode ser indiferente. A Graça exige uma resposta. No texto, o povo de Israel foi chamado a escolher entre a VIDA e a MORTE.


• Josué 24:19-24: Josué explica ao povo de Israel as duas opções: servir ao Senhor ou não. Após a escolha lhe restava arcar com as conseqüências dessa escolha.

• Salmo 119:30: o salmista declara sua escolha e decisão.
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• Isaías 1:18-20: aí está o convite à Graça. Não há pecados horrendos que Deus não possa perdoar. Ele continua convidando ainda hoje à participação de sua graça e perdão.

• Ezequiel 18:30-32: Como um Pai amoroso, Deus se aflige com a perdição de sua criatura e apela para a conversão e a vida.

a - O Que é Graça de Deus? Quando se fala em graça de Deus tem-se, geralmente, a impressão de que é algo que Deus concede ao ser humano, uma realidade independente de Deus, uma força misteriosa, um poder extraordinário, que opera a salvação.

Todavia a graça de Deus não é nada mais que a disposição benevolente de Deus para com o ser humano, sua misericórdia posta em ação a favor do ser humano, exercendo-se de tal maneira que o ser humano possui agora uma possibilidade de ser salvo. Dizer "somos salvos pela graça de Deus", significa então que somos salvos pela misericórdia de Deus posta em ação a nosso favor.

De todas as coisas que a Bíblia revela aos homens e mulheres, nenhuma é tão única e importante como a existência em Deus de um tal espírito de misericórdia e amor para com o ser humano pecador. Deixados sem esta revelação, homem e mulher, não teriam certeza de coisa alguma. Se se considera como se desenvolveram as religiões nascidas da supertição humana, de sua observação dos fenômenos físicos e naturais (raios, trovões, seca, vulcões, etc.), se compreenderá muito facilmente como puderam surgir opiniões das mais variadas a respeito da divindade, que por se imaginá-la multiforme, na crença de muitos deuses, quer por julgá-la insensível às necessidades humanas ou sujeita aos caprichos da natureza do ser humano, podendo ora ser propícia, ora ser irritadiça, ora mesmo ser irada e desejosa de exterminar as suas criaturas.

Esse tipo de conceituação e pensamento ainda se é atribuida a Deus (Javé), na Bíblia, muitas vezes, até que Jesus Cristo surja e revele um Deus de amor e de bondade, cuja característica mais marcante é a de ser gracioso com os homens e mulheres, pronto a, por causa de sua graça, perdoar os pecadores e salvá-los de seus pecados.
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E isto Ele o faz concretamente enviando o seu próprio e Unigênito Filho como redenção de toda a humanidade. É na cruz que vemos revelada de maneira mais notável, a maravilosa e salvadora graça de Deus.

b - A Motivação da Graça de Deus: Um ponto importante temos de levantar aqui: Por que motivo resolve Deus mostrar a sua graça? Qual a motivação que o leva a assim compadecer-se do ser humano pecador?
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A resposta de muitos será que afinal Deus vê um valor no ser humano, sente que apesar dos seus pecados ele é digno de ser salvo porque possui em simesmo valor. Ou quem sabe, porque a sua situação de pecador não é de desgraça total, podendo através de seus esforços possuir o mérito de provocar a misericórdia de Deus.
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Nenhuma dessas hipóteses, porém, é admitida por João Wesley. Para Wesley nada há no ser humano que possa alterar a posição de Deus a seu respeito. Seu coração é pecador e sua condição é de irremediavelmente perdido, uma vez que vive apenas para si mesmo. Os esforços nos quais se empenhe são totalmente egoistas, visando seu próprio benefício. Deus não é o centro de sua vida.

"A graça de Deus - diz Wesley - da qual nos vem a salvação, é gratuita em tudo e para todos. É gratuita a todos a quem é concedida. Não depende do poder ou mérito do ser humano, em nenhum grau, nem no todo, nem em parte. Do mesmo modo ela não depende das boas obras ou da retidão daquele que recebe, de coisa alguma que tenha feito ou que seja. Não depende dos seus esforços, dos seus sentimentos, bons desejos, bons propósitos ou intenções, pois todos estes fluem fa graça gratuita de Deus; são apenas a corrente, não a fonte. São os frutos da graça gratuita e não a raiz. Não são a causa mas os efeitos da mesma. Seja o que for de bom que haja no homem ou 1ue seja feito por ele, é Deus o autor e que o faz. Assim é a sua graça gratuita em tudo, isto é, não depende de nenhum poder ou mérito no homem, massomente em Deus, que nos deu gratuitamente o seu próprio Filho e "com Ele deu-nos gratuitamente todas as coisas".
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c - A Universalidade da Graça de Deus: Mas terá Deus distribuido a sua graça com todos os seres humanos? É aqui que Wesley se torna mais enfático. Nem mesmo as doutrinas católico-romanas provocaram-lhe tão grande ira quanto a propagada idéia ao seu tempo de que Deus havia escolhido uns quantos para a salvação, deixando a grande maioria perecer nos seus próprios pecados.

A chamada doutrina da reprovação, a de que Deus não apenas não se importa com milhões, mas deliberadamente os predestinou à perdição, enchia Wesley de horror, que a considerava uma terrível blasfêmia contra Deus, pois o considerava injusto, cruel e mentiroso.
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A graça de Deus estava aberta a todos os homens e mulheres. Não apenas aberta a todos mas presente em todos. Wesley acreditava que a Graça Salvadora (ou Preventiva, como ele a chamava) estava em atuação no coração de todos os seres humanos, ao lado de sua consciência, a própria presença de Deus em ação, por sua misericórdia, procurando levar o ser humano ao arrependimento: "Parece ser esta faculdade a que se referem usualmente aqueles que falam de consciência natural, expressão encontradiça amiúde em alguns dos nossos melhores autores, contudo não estritamente certa, pois, embora possa ser chamada natural, por achar-se em todos os homens, não é, todavia natural, propriamente falando-se, mas um don sobrenatural de Deus, acima de todos os seus dotes naturais".
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Era esta graça universal a verdadeira boa nova do Evangelho, que anunciava a todos os homens e mulheres a salvação pela fé em Jesus Cristo. Wesley não a cria eficiente, isto é, ela não realizava a salvação, mas plenamente eficaz, suficiente e capaz para salvar a todos os que cressem.

d. Resposta à Graça de Deus: Colocada, porém, diante dos homens e mulheres a graça de Deus não lhes permitia uma situação de indiferença. ela era um desafio a que todos os homens e mulheres deveriam responder afirmativa ou negativamente. Responder indiferentemente era apenas outra maneira de repudiá-la, "apagando o Espírito", expressão que Wesley tomara emprestada à Escritura e usava constantemente.

A rejeição consciente da graça de Deus era na verdade, a escolha da perdição eterna, uma vez que não havia outra maneira de poder o ser humano alcançar a salvação.

Isto nos leva ao ponto de considerar se o ser humano pode ou não resistir à graça de Deus. É a graça de Deus irresistível como muitos acreditavam? Absolutamente, responderia Wesley. Não apenas o homem e mulher podem resistir à graça de Deus mas até mesmo destruir aquela graça divina que já está alojada em seu coração. Neste sentido negativo o ser humano é senhor absoluto de seu destino e capitão de sua própria salvação. E algumas vezes a graça de Deus opera de maneira irresistível, "como um relâmpago caindo dos céus", ele declara decisivamente que este não é o método usual da operação divina e que mesmo nestes casos esta irresistibilidade é passageira, dependendo finalmente do ser humano, como veremos no tópico Doutrina do Livre Arbítrio, a decisão final a respeito de sua salvação.

Ou como diz Santo Agostinho, que Wesley cita em um de seus sermões: "Qui fecit sine nobis, non salvabis nos sine nobis, "ou seja, "Aquele que nos fez sem nossa atuação não nos salvará sem nosso assentimento"(consentimento, concordância).
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Obs.: As citações feitas de João Wesley foram retiradas da COLETÂNEA DA TEOLOGIA DE JOÃO WESLEY, de Burtner e Chiles, pág. 117 e 118 (1ª citação) e p. 152 (2ª citação).
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Igreja Metodista - Doutrinas
3. Doutrina da Graça Preveniente (Ou Graça Preventiva ou Graça Salvadora)
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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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