Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

sábado, 13 de outubro de 2012

O conceito de Brunner sobre a eleição não soa armínio-wesleyano?

O conceito de Brunner sobre a eleição não soa armínio-wesleyano?
(apontamento do Bispo Ildo Mello)

Ele diz:

É Seu livre propósito que coloca-nos pecadores, por meio da fé, na realidade do Filho do Seu Amor, como é Seu propósito enviar-nos Seu Filho, revelar-nos a nós e partilhar a Si mesmo conosco (...). Em si mesmo, o Filho significa Eleição. Onde o Filho está há eleição. Mas onde o Filho não está não há eleição. Mas o Filho só está presente onde há fé, por isso no Novo Testamento os eleitos e apenas eles são aqueles que crêem. Por esta causa só a fé é decisão na qual o prêmio é a salvação ou a ruína. Não é uma decisão falsa onde tudo já foi decidido de antemão. As conseqüências podem ser sérias, se a fim de escapar da doutrina da dupla predestinação tomarmos o caminho errado e acabarmos no Universalismo [1].

Alguém de fato lê na Bíblia como um todo, como também em Paulo, muito acerca daqueles a quem Deus rejeita ou rejeitou (por ex. Rm 11.15), mas nunca sobre aqueles aos quais Ele rejeitou desde a eternidade. Alguém encontra que Deus endurece os homens (Rm 9.18),mas nunca que Ele os predestinou desde a eternidade para a dureza do coração. Está escrito na Epístola aos Romanos que Deus tem o direito de fazer com sua criatura o que desejar – e se desejar, pode também fazer vasos de ira (Rm 9.22), mas não diz que Ele predestinou homens desde a eternidade para serem vasos de ira e os tenha criado como tais. Pelo contrário, é precisamente aqueles a quem Paulo descreve no nono capítulo como vasos de ira (9.22) de quem ele diz, no décimo primeiro capítulo que já estão salvos(11.23ss) (...) por um lado, ninguém se aproxima tão intimamente do pensamento de um “duplo decreto da predestinação, um para a salvação e outro para a perdição” como o nono capítulo da Epístola aos Romanos. Por outro lado, ninguém se aproxima mais da doutrina da salvação universal como o final do capítulo onze. (...). Se perguntarmos a razão disso, então estes são justamente os capítulos que nos fornecem uma resposta: apenas o fiel pode saber a respeito da eleição. A fé, porém, embora sendo dom de Deus é requerida de nossa parte. Nós também devemos crer (1 Co 16.13; Cl 2.7; Ef 6.16), A Palavra de Cristo está sendo proclamada em todas as nações, com a exigência da obediência (Rm 15.18). O que mais importa é a decisão da fé (Rm 11.20) [2].
______
[1] BRUNNER Emil. Dogmática I, p. 412.
[2] BRUNNER Emil. Romanos, p.257-258.

Fonte: http://escatologiacrista.blogspot.com.br/2012/10/uma-consideracao-sobre-doutrina-da.html
.

sábado, 21 de julho de 2012

A dialética teológica e a teologia da inversão de valores

A DIALÉTICA TEOLÓGICA E A TEOLOGIA DA INVERSÃO DE VALORES

Introdução

No extenso percurso histórico, desde o início dos registros das manifestações humanas, vários movimentos culturais e intelectuais foram se transformando. Como havia ditado o grande filosofo sistemático Hegel, dialeticamente os movimentos foram se transformando como síntese do choque entre velhas e novas ideias. Ao longo da história puderam-se testemunhar mudanças no modo de vida social. Fazendo uma comparação investigativa, facilmente se observará que os contornos culturais de hoje são diversos, e na maioria dos casos, muito diferente do que os de outrora. Se a dialética traça os rumos arquitetados por Hegel, nem sempre a nova arquitetura é feita de novos elementos, pois no choque entre o velho e o novo, muita coisa dantes usadas, ou, muitos elementos e ideias até então dispensados podem novamente vir a tona. Portanto, a síntese entre tese e antítese, entre o velho e o novo, poderá, com novas formas e variações, reaproveitar muita coisa ou ideia, tida como antiquada.
A filosofia e a teologia não fogem desse movimento que observamos. Em muitas obras que versam sobre essas manifestações intelectuais leem-se registros das mudanças na ordem das ideias – mudanças essas, que vez por outra, reafirmam o que remotamente fora rejeitado. Detendo-se na Teologia, pode-se perceber sem muito esforço essa realidade dialética, e é sobre aspectos dessa realidade dialética na teologia que timidamente passaremos a abordar.

1. Aspectos de uma dialética teológica.

Comentar sobre aspectos de uma dialética teologia é ter a princípio um leque de possibilidades, coisa que por sua extensão, impossibilitaria nossa pretensão de desenvolver um simples e específico comentário. Por isso, para realizar nossa pretensão, a saber, de construir, não um exaustivo comentário, mas uma abordagem parcial e simples - buscamos desenvolver um comentário que, mesmo beirando o superficial, não se configure como supérfluo.
Tendo assumida a hipótese da dialética teológica, podemos apresentar superficialmente algumas manifestações que entendemos se configurar como matéria prima da perpetuação dessa dialética.

A Teologia Cristã tem nos Escritos Bíblicos a fonte de sua movimentação dialética, porém, apesar da fonte comum, os movimentos teológicos cristão são destoantes. Por exemplo, os evangelhos e os escritos do apóstolo Paulo que tem servido como inspiração para uma série de sistemas, direcionam os aderentes de cada sistema a conclusões opostas. Se voltarmos nossa atenção apenas para os sistemas soteriológicos perceberemos que essa hipótese ganha ainda mais força. Nessa investigação, apontamos para o fato de que as mesmas fontes e ideias usadas para legitimar um sistema, são usadas para legitimar outro destoante.
Na Soteriologia Católica, temos como fundamento os Pais da Igreja, principalmente a fonte agostiniana, que avançando, gera a vertente tomista – apresentando-se em outra forma, que por sua vez ganha outra curso no afluente molinista, continuando nos contemporâneos, em vários modos, a movimentar o curso dialético das ideias. Já a Soteriologia Protestante tem como fonte os já citados católicos, canalizados em Lutero e Calvino, que engendra o afluente Arminius que, por sua vez, gera o afluente Wesley e demais, em diversidade de conteúdos, interpretações e ênfases. Porém tanto na primeira como na segunda, o lençol de água é as Escrituras. É importante ressaltarmos que os sistemas que citamos não seguem uma ordem estrita, tal como apresentamos, ademais, a grande maioria de nomes ou sistemas foram omitidos, o que pretendemos em nossa apresentação, é apenas mostrar que existe uma dialética teológica.
Através de um grande número de sistemas várias ideias foram discutidas. Temas como: soberania de Deus, eleição e predestinação (absoluta e inflexível ou, restrita e flexível); conhecimento de Deus (positivo, sempre diretamente atuante, passivo ou impassivo; ou circunstancialmente atuante etc.); livre-arbítrio humano (como coisa irreal, ou, existente apenas antes da queda; enfraquecido depois da queda – mais, ainda existente; só possível com a intervenção da graça preveniente; etc.) foram dialeticamente ganhando novos contornos, passando de uma rigidez ideologia à flexibilidade, ou inversamente.

Como prevíamos nossa intenção nesse simples comentário não é tratar com profundidade os principais aspectos da dialética teológica, o que demandaria maior trabalho, e, por consequência, exigir-nos-ia mais tempo de dedicação, coisa que atualmente indispomos, além de fugir de nosso campo de intenções. Pretendemos abordar apenas um aspecto marginal dessa dialética.
Apesar de entender que quando se fala em dialética teológica o assunto predominante deva ser as construções e reformas propriamente teológicas, agarrar-nos-emos a outra questão, a saber, a inversão de valores - realizada com o intuito de manter firme algumas construções teológicas.

2. A teologia da inversão de valores e as mudanças de ênfases.

Se até agora nossa tarefa foi a de destacar que de tempos em tempos ocorreram várias transformações nas teorias teológicas, doravante, passaremos a destacar uma questão específica, ou seja, a inversão de valores, principalmente em relação aos valores morais e potenciais atribuídos a Deus, assumida por algumas vertentes teológicas – e em seus defensores, tendo como fim, como já apontamos, manter intacta a consistência e coerência teórica da vertente teológica que defendem.

2.1 O enfraquecimento de valores morais em prol da perpetuação de alguns sistemas teológicos.

Para se configurar como uma genuína Teologia Cristã, independentemente do caminhar dialético, algumas ideias devem ser assumidas como inamovíveis. Umas dessas ideias basilares se referem ao caráter reto, santo, justo e amoroso de Deus, fonte de todos os bons valores, de toda boa dádiva e de todo o dom perfeito
(Tg 1.17). Portando, cristãmente crer em Deus, entre outras coisas, é crer que nEle residem, sem sombra nem variação, esses valores ideais. Apesar de verbalizada e confessada por todas as teologias cristãs, na engenhosidade de suas teorias, a palavra verbalizada e assumida sobre os valores que nos referimos não encontra assentamento em alguns sistemas teológicos.
Percebe-se o afloramento do calvinismo no Brasil. O que dantes era uma teologia quase que confinada a redutos específicos, hoje, sua influência se estende até mesmo em ambientes que tinha no arminianismo o seu principal afluente teológico. Na Internet, além da divulgação produzida por já tradicionais figuras e veículos calvinistas, essa nova camada também ostenta ferozmente sua teologia recém-absorvida através de sites, blogs pessoais ou institucionais, como também, atacando páginas que divulgam outras teologias, principalmente a Teologia Arminiana.
Independentemente do grau de profundidade que esses seminovatos calvinistas têm em relação à teologia que abraçaram, ou de outra teologia contrária que ferozmente atacam, percebe-se em suas posturas uma ousadia que por pouco alcança as raias do delírio, reforçando práticas de figuras já institucionalmente situadas e estabelecidas. Na ânsia de proteger a pseudológica de seu sistema teológico, não se constrangem a diminuir o que é de mais valorado nas Escrituras, a saber, o caráter reto, santo e justo de Deus, passando a construir, ou mesmo, perpetuar com mais explicitude, a teologia de inversão de valores.
O que vem a ser a teologia da inversão de valores? - Não é outra coisa, que uma teologia que diminui a importância dos valores morais, com o fim de supervalorizar o poder, por eles titulado como, soberania. É uma teologia que muda a ênfase das Escrituras, do amor, caráter, santidade, e justiça para o poder ou soberania. Na tentativa de garantir uma sobriedade teológica - até mesmo à ênfase evangélica do Novo tentamento é manipulada. Enquanto que a Bíblia registra a preocupação de Cristo em favorecer a humanidade, através de um tão grande amor por todos, que o levou a uma morte vil, os inversores, procuram direcionar esse favor gracioso Deus em prol da humanidade, diminuindo a extensão de sua doação benévola - apenas a um grupo ao qual chamam de eleitos. Se, se afirmava que o preço que pagou Cristo foi o caríssimo preço do pecado do mundo inteiro, a teologia da inversão de valores, apresentando a expiação de Cristo como preparada só para o grupo dos eleitos, com isso torna menor a extensão do sacrifício de Cristo do que é apresentado pelas Escrituras. Vejamos como as Escrituras nos apresenta a extensão do sacrifício e favor de Cristo:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3. 16, 17)

“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá a vida” (Rm 5.18.)

“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia.” (Rm 1.32)

“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram.” (2Co 5.14) .

Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens... (Tt 2.11)

E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (1 João 2. 2).

É muito claro nas Escrituras que o sacrifício e favor de Cristo e de extensão Universal, porém, os inversores diminuem consideravelmente essa dimensão.
Se a ênfase evangélica através da teologia de inversão de valores ganha novos realces, a moralidade também. Nesses contornos teológicos algumas expressões axiológicas passam a ser tratadas como quimeras.
Quando falamos na integridade de Deus, apontando que o homem, com o seu livre-arbítrio é realmente culpado por seu pecado -, assumindo o ousado sistema teológico inversivo, toda a retidão de Deus, apresentado nas escrituras como julgador de cada um segundo as suas obras, é desprezada, pois implicitamente ou em casos até explicitamente, afirmam que próprio Deus impediu que esses homens fizessem o bem. Deus já havia, indicam, escolhido positivamente os que seriam salvos e os que seriam condenados. Sobre esse pressuposto, Jacobus Arminius já advertia que afirmar que Deus estabeleceu positivamente os atos dos réprobos, é torná-lo autor do pecado:

“Embora o pecado não possa ser cometido por ninguém exceto por uma criação racional, e, por isso, deixa de ser um pecado, por esta mesma circunstância, se sua causa for atribuída a Deus; no entanto, parece possível, por quatro argumentos, fixar essa acusação sobre o nossos teólogos. ’Segue-se de sua doutrina de que Deus é o autor do pecado’". (Jacobus Arminius. Works of Arminius VlI).
John Wesley problematiza a questão da incoerência em julgar alguém incapaz de fazer o que fez.

“Se o homem é capaz de escolher entre o bem e o mal, ele se torna um objeto próprio da justiça de Deus que o absolve ou o condena, que o recompensa ou pune. Mas se ele não é, não se torna objeto daquela. Uma simples máquina não capaz de ser absolvida nem condenada.” E continua, “(...)A justiça não pode punir uma pedra por cair ao chão, nem, no nosso plano, um homem por cair no pecado, ele não pode senti-la mais do que a pedra, se ele está, de antemão, condenado... Será este homem sentenciado a ir para o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos por não fazer o que ele nunca foi capaz de evitar?”

Defender que positivamente Deus estabeleceu os réprobos, é de alguma forma, além de torná-lo autor do pecado, apontar um traço de injustiça e de não retidão no caráter de Deus. Com muita propriedade o Rev. Amos Binney afirma: “Se o castigo é justo, é porque o castigado podia ter obrado de outro modo.” Portanto, segue-se que se o castigado não poderia ter obrado de outro modo, o castigo é injusto e injusto é o castigador.
Invertendo os valores tão zelosamente defendidos nas Escrituras, a teologia da inversão de valores, abandona a defesa do caráter reto de Deus, colocando nele um caráter obscuro – que faz dele, um julgador que não leva em consideração nenhuma ação humana, e pior ainda, que faz com que a maioria dos homens seja intrinsecamente impedida de desejar qualquer bem, qualquer salvação, oferecendo caprichosamente seu favor apenas a um grupo, tão pecador quanto o reprovado, independentemente de qualquer resposta humana. Ou seja, prática da acepção de pessoas que as Escrituras afirmam não existir em Deus, a teologia da inversão de valores assume como natural ação de um Deus soberano.
Defendendo, também, que algumas práticas pecaminosas foram incitadas por Deus independentemente do caráter já corrupto de alguns homens, a teologia da inversão de valores faz de Deus um corruptor de homens, coisa explicitamente rejeitada nas Escrituras, principalmente como lemos na clara assertiva de Tiago: Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. (Tg 1.13).
Se apropriando de textos de linguagem antropomórficas, os famigerados reversores teológicos fazem de Deus um ser imoral, que além de tentar alguém a práticas pecaminosas, o pune. É muito clara à percepção de quem se envolve em controvérsias soteriológias com defensores da teologia da inversão de valores o desprezo pelos conceitos morais que a Bíblia ciosa da reputação divina apresenta como traços do caráter divino. Diante dessa questão, a resposta a algumas indagações se fazem pertinentes, a saber:

Qual é a grande ênfase das Escrituras, o amor e a justiça de Deus, associada ao seu reto caráter -, ou uma soberania que julga a cada um de acordo com obras estabelecidas pelo próprio soberano?

O que as Escrituras mais explicitamente falam sobre Deus, sobre o seu amor pelo mundo, sua santidade, sua retidão e integridade, sua JUSTIÇA, - ou sobre sua soberania absoluta que impede intrinsecamente a possibilidade de salvação a muitos, ao passo, que intrinsecamente tem garantida a salvação a alguns, independente de suas ações?

O que mais as Escrituras exortam, a prática do autoexame, a necessidade de vigilância por conta da possibilidade do naufrágio da fé e para não receber em vão a graça de Deus, a necessidade do arrependimento -, ou o conforto de um grupo estabelecido de eleitos por conta da impossibilidade de que caiam da fé?

Conclusão.

Nessas poucas linhas, fizemos alguns apontamentos direcionados a praticas de defensores de uma vertente, que na ânsia de garantir seu principal pressuposto teológico, a saber, a soberania absoluta de Deus, cometem excessos que terminam por descaracterizar o Ente que visa defender. Apontamos para o problema vivenciado pelos defensores, por nós chamados, da teologia da inversão de valores, destacando que alguns valores que são colocados em alta estima nas Escrituras, por destacar a santidade de Deus -, na vertente teológica inversora, e nas mentes que assumem essa inversão, são relegados, na ânsia de valorizarem uma pretensa soberania absoluta, em detrimento a ética bíblica que direciona a Deus valores morais que não se harmonizam com o modelo de soberania absoluta que defendem.
É certo que a soberania divina é um fato bíblico. É certo também, em acordo com essa soberania, que nada ocorre sem a Divina Providência, até mesmo o livre-arbítrio do homem é manifestação da providência de Deus. Como também, é certo que não podemos omitir em qualquer manifestação intelectual essa realidade, e isso, implicitamente nos faz defender que a ocorrência de tudo está ligada a essa soberania e providência de Deus. Porém, o que não pode ser defendido, sob pena de apresentar Deus como um ser imoral, injusto e odioso, é inferir que essa soberania e providência de Deus que possibilita a ocorrência de todas as coisas, é a feitora positiva, intencional de todos os males do mundo, incluindo o pecado particular de cada ser, como inferem muitos calvinistas aqui tratados como inversores.
Teologizar sem reparar os caminhos que nossas inferências estão a nos levar é correr o risco de fazer teologia irresponsável e agressiva e de defender ideias e práticas contrárias aos atributos e valores que a Bíblica direciona para Deus.

Lailson Castanha
______
Referências bibliográficas.

AGOSTINHO, Santo. O Livre-arbítrio. 2ed. São Paulo: Paulus, 1997.
ARMINIUS, Jacobus. Works of Arminius VlI.PDF
BINNEY, Amos. Compendio de Teologia. Campinas: Editora Nazarena.
LANE, Tony. Pensamento Cristão (Volume I); traduzido por Elizeu Pereira. 4ed. São Paulo: Abba Press, 2007.
LANE, Tony. Pensamento Cristão (Volume II); traduzido por Elizeu Pereira. 4ed. São Paulo: Abba Press, 2007.
OLSON, Roger. A história da Teologia Cristã – 2000 anos de tradição e reformas; tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2001.
BURTNER, R.W. e CHILES, R.E., compiladores. Coletânea de Teologia de John Wesley; 2ed. Rio de Janeiro: Instituto Metodista Bennett, 1995.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

SOBRE O ARREPENDIMENTO PELO QUAL OS HOMENS RESPONDEM A VOCAÇÃO DIVINA

DISPUTA XLIII
SOBRE O ARREPENDIMENTO PELO QUAL OS HOMENS RESPONDEM A VOCAÇÃO DIVINA

Jacobus Arminius

Como, em matéria de salvação, aprouve a Deus tratar com o homem pelo método de um pacto, ou seja, por uma estipulação, ou uma exigência e uma promessa, e como ainda considera a vocação de uma participação na aliança; é instituído, em ambas as partes e em separado, que o homem pode cumprir a requisição ou ordem de Deus, pelo qual ele pode obter [o cumprimento] de sua promessa. Mas esta é a relação mútua entre os dois - a promessa é equivalente a um argumento, empregado por Deus, que ele pode obter junto ao homem o que ele exige, e o cumprimento da demanda, por outro lado, é a condição, sem o qual o homem não pode obter o que foi prometido por Deus, e através do [do desempenho] qual ele certamente obtém a promessa. II. Por isso, é evidente que o primeiro lugar que acolhe esta vocação é a fé, pela qual o homem crê que, se ele está em conformidade com a exigência legal, ele irá desfrutar da promessa, mas que se ele não cumpri-la, não será colocado em posse das coisas prometidas, ou melhor, que os males contrários serão infligidos a ele, de acordo com a natureza da aliança divina, em que não há nenhuma promessa, sem uma punição oposta a ela. Esta fé é o fundamento sobre o qual repousa a obediência que deve ser rendida a Deus, e é, portanto, o fundamento da religião. III. Mas os teólogos geralmente colocam três partes nesta obediência. A primeira é o arrependimento, pois é o chamado de pecadores para a justiça. A segunda é a fé em Cristo e em Deus através de Cristo, pois, vocação é feita por meio do evangelho, que é a palavra da fé. A terceira é a observância dos mandamentos de Deus, em que consiste a santidade de vida, para qual os crentes são chamados, e sem a qual ninguém verá a Deus. IV. O arrependimento é o pesar ou tristeza por conta dos pecados conhecidos e reconhecidos, a dívida da morte contraída pelo pecado, e por conta da escravidão do pecado, com o desejo de ser libertado. Por isso, é evidente, que as três coisas concorrem em penitência - a primeira como um antecedente, a segunda como uma consequência, e a terceira como corretamente e mais plenamente compreendendo sua natureza. V. O que equivale a um antecedente é o conhecimento ou reconhecimento do pecado. Este consiste de um conhecimento duplo: (1.) Um conhecimento geral pela qual se sabe o que é o pecado universal e de acordo com a prescrição da lei. (2). Um conhecimento particular, pelo qual se reconhece que o pecado havia sido cometido, tanto a partir de uma lembrança das más ações cometidas e do bem omitido e da análise deles de acordo com a lei. Este reconhecimento tem, unido com ele, a consciência de um duplo demérito, da condenação ou morte, e da escravidão do pecado, "porque o salário do pecado é a morte," e "ele que comete pecado é escravo do pecado. “Este reconhecimento é interno e feito na mente, ou é externo, e recebe a denominação de “confissão.” VI. O que intimamente compreende a natureza do arrependimento é, o pesar por conta do pecado cometido, e de seu demérito, que é muito mais profundo, como o reconhecimento do pecado é mais claro, e mais abundante. Também é produzido a partir deste reconhecimento, por meio de um temor duplo de punição:. (1). Um temor não só de corpo e punição temporal, mas também daquilo que é espiritual e eterno. (2). O temor de Deus, pelo qual os homens temem o julgamento desse bom e reto ser, a quem ofenderam por seus pecados. Este temor pode ser corretamente chamado de "inicial", e acreditamos que há alguma esperança a ele anexada. VII. O que se segue como consequência, é o desejo de libertação do pecado, isto é, a partir da condenação do pecado e do seu domínio, qual desejo é tanto mais intenso, por quanto maior é o reconhecimento de miséria e tristeza por causa do pecado. VIII. A causa desse arrependimento é Deus por sua palavra e Espírito em Cristo. Pois é um arrependimento que tende a não se desesperar, mas para a salvação, mas tal não pode ser, exceto com relação a Cristo, em quem, só, o pecador pode obter livramento da condenação e do domínio do pecado. Mas a palavra que ele usa no início é a palavra da lei, mas não sob a condição jurídica peculiar à lei, mas sob o que está anexa a pregação do Evangelho, do qual a primeira palavra é que a salvação é declarada a penitentes. O Espírito de Deus pode, não impropriamente, ser denominado "o Espírito de Cristo", assim como é mediador, e exorta primeiro o homem pela palavra da lei, e, em seguida, revela-lhe a graça do evangelho. A ligação da palavra da lei e do evangelho, que é, assim, habilmente feita, remove toda a autossegurança, e proíbe o desespero, que são as duas pragas da religião e das almas. IX. Nós não reconhecemos a satisfação que os papistas fazem ser a terceira parte de arrependimento, ainda não negamos que o homem que é um verdadeiro penitente procurará dar satisfação a seu próximo contra quem ele confessa que pecou, e a igreja que ele feriu pela sua ofensa. Mas a satisfação, de forma alguma, pode ser prestada a Deus, por parte do homem, pelo arrependimento, tristeza, a contrição, a esmola, ou pela recepção voluntária e imposição de punições. Se tal curso foi prescrito por Deus, as consciências dos homens devem necessariamente ser atormentadas com a angústia contínua de um inferno ameaçador, não menos do que se nenhuma promessa de graça tinha sido feita para os pecadores. Mas Deus considera esse arrependimento, que já descrevemos, sendo ele verdadeiro, digno de uma libertação graciosa do pecado e da miséria; e tem a fé como consequência, sobre o qual iremos tratar na disputa subsequente.

COROLÁRIO: Arrependimento não é um sacramento, seja com relação a si próprio, ou em relação aos seus símbolos externos.

Tradução: Lailson Castanha
______

Works of Arminius Vol. 2

SOBRE A FÉ EM DEUS E CRISTO

DISPUTA XLIV
SOBRE A FÉ EM DEUS E CRISTO

Jacobus Arminius

Na disputa anterior, temos tratado na primeira parte da obediência que se rendeu à vocação de Deus. A segunda parte segue agora, que é chamado de "obediência da fé". II. Fé, em geral, é o acolhimento dado à verdade e fé divina é a que é dada a verdade revelada por Deus. A base sobre a qual repousa a fé divina é dupla - uma externa e de fora ou além da mente - a outra interna e na mente. (1.) O fundamento externo da fé é a veracidade de Deus, que faz a declaração, e que nada pode declarar que é falso. (2.) A base interna da fé é dupla - tanto a ideia geral por que sabemos que Deus é verdadeiro - e do conhecimento pela qual sabemos que é a palavra de Deus. Fé é também dupla, de acordo com o modo de revelação, sendo legal e evangélica, da qual esta última está sob nossa consideração presente, e se inclina a Deus e a Cristo. III. A fé evangélica é um assentimento da mente, produzida pelo Espírito Santo, por meio do evangelho, nos pecadores, que, através da lei, conhecem e reconhecem seus pecados, e são penitentes por conta deles, por que eles não estão apenas totalmente convencidos dentro de si que Jesus Cristo foi constituído por Deus, o autor da salvação àqueles que lhe obedecem, e que ele é seu próprio salvador se eles crerem nele, e pelo qual também acreditam nele como tal, e através dele em Deus como o Pai benevolente nele, para a salvação dos crentes e para a glória de Cristo e de Deus. IV. O objeto da fé não é apenas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, mas também o próprio Cristo constituído por Deus, o autor da salvação para aqueles que lhe obedecem. V. A forma é o consentimento que é dado a um objeto dessa descrição, que o parecer favorável não é adquirido por um curso de raciocínio a partir de princípios conhecidos por natureza, mas é um assentimento infundido acima da ordem da natureza, que, no entanto, é confirmado aumentando os exercícios diários de oração e mortificação da carne, e pela prática de boas obras. O conhecimento é antecedente à fé, porque o Filho de Deus é contemplado antes de um pecador crer nele. Mas confiar ou confiança é consequente a ela, pois, por meio da fé, a confiança é colocada em Cristo, e através dele em Deus. VI. O autor da fé é o Espírito Santo, a quem o Filho envia do Pai, como seu advogado e suplente, que pode reger sua causa no mundo e contra ele. O instrumento é o evangelho, ou a palavra da fé, contendo o significado a respeito de Deus e de Cristo que o Espírito apresenta ao entendimento, obrando uma persuasão. VII. O sujeito no qual reside, é a mente, não só como ela reconhece esse objeto sendo verdadeiro, mas também sendo bom, qual a palavra do evangelho declara. Portanto, pertence, não só a compreensão teórica, mas igualmente ao dos afetos, que é prático. VIII. O sujeito ao qual [é dirigido], ou o objeto sobre o qual [é ocupado], é o homem pecador, reconhecendo seus pecados, e penitente por causa deles. Pois que esta fé é necessária para a salvação de quem crê, mas é desnecessária para quem não é pecador, e, portanto, ninguém, exceto um pecador, pode conhecer ou reconhecer a Cristo por seu salvador, pois ele é o salvador dos pecadores. O fim, o que pretendemos para o nosso próprio benefício, é a salvação em sua natureza. Mas o fim principal é a glória de Deus através de Jesus Cristo.

COROLÁRIO: "Foi a fé dos patriarcas nas alianças da promessa, a mesma que a nossa, sob o Novo Testamento, no que diz respeito a essência?" Nós respondemos afirmativamente.

Tradução: Lailson Castanha
______
Works of Arminius Vol. 2

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O servo e o soberano

O servo e o soberano

Josué Oliveira Gomes*

Matutando comigo mesmo sobre a questão de servir a Deus, me lembrei que sou também um filho dele. Mas, como seria isso? Sou filho ou sou servo? Sou um servo que é filho ou um filho que serve? Sei lá! Uma coisa penso ser verdade. Não creio que me seja exigido uma obediência cega, ainda que leve em conta minha ignorância e sua soberania. Creio na soberania de Deus, mas não o vejo como os soberanos antigos (ou modernos), déspotas inatingíveis e inalcançáveis. Quando leio a bíblia percebo que Deus, consegue abdicar de sua soberania com o firme propósito de se colocar ao nível dos seres humanos, aliás, ele se rebaixa ainda mais e lava os pés de quem ama. E, a quem ele se recusa amar? Quando descubro isso como verdade libertadora, me vejo na condição de filho amado que se dispõe a servir. Não como um servo encabrestado. Apesar da preferência ou única condição (cabresto) de tantos, Deus não parece desejar ser servido à base da imposição ou à custa de cabresto. Deus não nos chama para sermos soldadinhos bem arrumadinhos que sabem do dever de obediência. Foi Jesus quem ensinou que deveríamos chamá-lo Abba, também disse que o Pai, melhor do que nós, sabe como tratar seus filhos. O que me faz obediente (quando o sou) não é o poder de sua soberania, mas o seu terno e doce amor que liberta. Falando nisso, não quero ser reconhecido como um servo de Deus como se isso fosse uma imposição de um soberano intocável, assentado em um trono esperando receber todo louvor e toda honra e toda glória. Prefiro ser percebido por aquele a quem posso chamar Abba-Pai e, percebendo-o como tal, me sentir livre para servi-lo. Vocês lembram do escravo de orelha furada amostrado no Pentateuco? Tal escravo tem em suas mãos a alforria que lhe garante a liberdade, o ser dono de seu nariz, cuidar de sua vida se lixando pro que acontece ou não na casa e ambiência de seu senhor. Mas, digamos que o sentimento e consciência do escravo fosse de que agora que conhece o valor da liberdade, se vê livre para poder servir. Ali estão as pessoas que fazem parte de sua história. Ali estão as pessoas caras de suas relações. Ficar em casa não seria ficar escravo, mas se ver livre para servir, o que equivale a amar. O amor exige por si esforço. A consciência do amor libera disposição para se doar. Foi isso que aconteceu (creio) no coração e cabeça de Jesus em relação ao Pai. E é isso que deve refletir em nossas relações com o Pai e com os outros. Então pega a sovela e fura a orelha, pois isso é sinal da voluntariedade e do despojamento de todas as individualidades. Também é sinal de não aceitar o comodismo da auto-suficiência. Pois quando sou livre para servir, a isso me proponho ou não. Feliz é aquele que se vê livre e, por ser livre serve. E, servindo, se parece mais com o Filho de Deus que não se aproveitando da glória do ser filho, serviu em amor até o fim, o que foi isso que o identificou como verdadeiro filho digno de toda honra.

*Josué Oliveira Gomes.
Pastor na Igreja Betesda em Maceió.
______
Fonte:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ASPECTOS DA VONTADE DE DEUS.

ASPECTOS DA VONTADE DE DEUS.

Introdução.

Lendo as Escrituras, em alguns momentos, nos deparamos com passagens que não se mostram claras a nossa percepção. Na tentativa de elucidá-las, recorremos a manuais teológicos e comentaristas, principalmente, aqueles ligados a tradição teológica que mais nos aproximamos ou com que mais simpatizamos. Porém, nos manuais em que pesquisamos, nem sempre alcançamos êxito em elucidar a questão em que nos deparamos. Por vezes as ideias apresentadas não satisfazem o nosso desejo de ter o problema solucionado. Diante de tal situação, podemos ser incitados a tomar algumas atitudes. A saber:

1. Resignar-nos diante do problema não procurando solucioná-lo.
2. Buscar esclarecimento em outros manuais e comentaristas, mesmo naqueles que desafiam o sistema teológico que abraçamos.
3. Buscar nas próprias páginas das Escrituras uma explicação à questão levantada.
4. Buscar compreensão ao texto através de outros textos bíblicos e com o reforço de manuais teológicos e comentários bíblicos.


A adoção da primeira opção leva o leitor a se assemelhar a alguém que engole um alimento sem saboreá-lo. Ou seja, deixa de sentir o prazer de uma leitura compreendida. Ler um texto, e abandoná-lo sem a devida compreensão não é um gesto coerente de quem busca conhecimento. As demais atitudes mostram que o leitor tem interesse pelo conhecimento ao buscar alternativas a fim de sanar o problema que se levantou.

As vezes alcançamos soluções a problemas bíblicos nas próprias páginas das Escrituras, porém, existem momentos em que sentimos a necessidade de nos valer de auxílios interpretativos para conseguirmos compreender um texto que não se mostra claro a nossa razão. Não são somente textos que se mostram obscuros a nossa mente, por vezes, alguns termos fazem nossa mente trabalhar quase que infecundamente em busca de compreensão para problemas que a adoção do termo engendra. Por exemplo, os termos abordados nas Escrituras como: eleição, predestinação, escolha, justiça, equidade, acepção de pessoas, etc. Sobre eles os diversos sistemas teológicos e filosóficos muitas vezes apontam para soluções irreconciliáveis e distantes uma das outras. Problemas ainda maiores encontraremos se pensarmos na interpretação de algum texto bíblico usando termos não literalmente bíblicos, como: livre-arbítrio, graça irresistível, graça preveniente, etc. Lendo os manuais, ou obras de grandes pensadores e comentaristas, encontramos informações interessantes sobre os termos ainda obscuros. Por exemplo, o termo graça preveniente pode ser encontrado em Anselmo da Cantuária, Tomás de Aquino, Jacobus Arminius e John Wesley. A abordagem de termos já desenvolvida pelos grandes pensadores e comentarias pode contribuir para a nossa compreensão e nos auxiliar na interpretação de textos que só farão sentido somente com a adoção de alguns conceitos extra-bíblicos, porém, implicitamente bíblicos.

Apesar da grande ajuda dos manuais e comentaristas bíblicos para uma maior compreensão das Escrituras e auxílio para a resolução de problemas encontrados em leituras bíblicas, muitas vezes conseguimos encontrar nas próprias páginas sacras soluções para os problemas que podem surgir a partir da leitura das Escrituras. Assumindo essa possibilidade, faz-se necessário, buscar a compreensão do texto, tendo em vista a visão panorâmica das Escrituras, ou interpretando cada passagem levando-se em consideração a coerência com os demais temas bíblicos. Com isso, nenhuma passagem deve ser interpretada isoladamente. Deve-se levar em consideração o macroambiente bíblico.

Por agora, faremos um esforço para compreender algumas questões de ordem soteriológica surgidas a partir do exame bíblico, buscando respostas nas próprias páginas das Escrituras.

1. A questão da graça, eleição e da irresistibilidade da graça.

A questão da eleição e da livre escolha do homem tem conturbado ao longo de séculos os debates teológicos. Apesar de as disputas em torno a temas soteriológicos serem mais brandas na hodiernidade, se comparado com as disputas travadas na ambiência medieval e também renascentista ou mesmo na era das luzes, elas ainda são intensas. Percebe-se com muita clareza a intensidade e atualidade desses temas na grande variedade de publicações editoriais e nos diversos sítios teológicos na Internet.

Quando se fala em eleição, alguns sistemas teológicos procuram definir esse termo se apropriando do termo soberania divina. Com isso, tencionam conceituá-lo como uma escolha direta e definitiva de Deus, e que, por conseqüência, não leva em conta a ação humana. Além disso, por conta de ser a eleição, uma escolha soberana Deus, é sempre certo, pensam, que o eleito a receberá sem restrições e jamais fará resistência a ela. Ao comentarmos sobre eleição, não podemos ignorar outro vocábulo importante: a graça. Da mesma forma que a eleição é uma escolha soberana e absoluta de Deus a finalidade última de sua graça, acredita-se, será absolutamente concretizada. Sendo a graça uma manifestação do favor de Deus aos homens tendo por fim último a redenção e salvação eterna, segundo essa linha de pensamento, fica evidente o fato de que, aqueles que não alcançaram ou não alcançarão a salvação, jamais foram alvo do gracioso favor de Deus, pois, se Deus tencionasse salvá-los, logo, sendo soberano, seu desejo se concretizaria.

Como qualquer afirmação, essa asserção deve passar por uma investigação. Sendo a boa investigação construída a partir de indagações, iniciaremos nossa averiguação com algumas perguntas.

Será que os conceitos graça e eleição estão sempre implicados nas Escrituras ao exercício de uma soberania absoluta que elimina qualquer possibilidade de ações contrárias a vontade de Deus?

Em absoluto, as Escrituram negam que a vontade de Deus pode ser resistida, ou é possível encontrar indícios bíblicos que apontam para o fato de que Deus, em muitos casos, permite que sua vontade seja resistida?

Comentávamos a pouco sobre a possibilidade de removermos problemas que se levantam a partir da leitura de textos bíblicos, ou de termos, usando as próprias páginas bíblicas para elucidá-los. Por exemplo, podemos compreender as advertências que faz o apóstolo Paulo e o escritor da carta aos Hebreus, orientando os destinatários de suas epístolas a perceberem e compreenderem a necessidade de se manterem vigilantes na caminhada espiritual, lendo o êxodo israelita do Egito à Canaã. O apóstolo Paulo e o escritor da epístola aos Hebreus ensinam o leitor bíblico a usar alguns textos do Testamento Antigo como figuras, ou sombras ou como exemplos de coisas que poderiam nos ocorrer (1Co 10.11); (Hb 3.11). Tanto o apóstolo Paulo, no capítulo 10 da epístola aos Coríntios, tanto o remetente da epistola aos Hebreus, nos capítulos 3 e 4, usam o fracasso do povo de Israel no deserto e a falta de êxito da maioria que saiu do Egito na tentativa de entrar na Terra Prometida, como exemplo e advertência aos destinatários de suas epístolas. Assim adverte o escritor da epístola aos Hebreus:

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.
Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;
Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, como na provocação.
Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés.
Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?
E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes?
E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.”
(Hb 3.12 – 19)


E continua:

“Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás.
Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.
(...)Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.”
(Hb 4.1, 2 e 11)


Esta passagem bíblica ajuda-nos na elucidação dos conceitos bíblicos eleição e graça. Percebemos ao ler as advertências que o escritor não leva em consideração a possibilidade de uma graça e eleição absolutas. Ele se vale dos exemplos do passado, justamente por não se apegar a ideia de eleição pessoal pré-determinada e graça irresistível. A advertência do rementente pressupõe, a exemplo dos israelitas, a possibilidade de um não alcance da promessa por conta dos contados entre os escolhidos. Pode-se, sem forçar o texto, substituir Israel (que aqui é usado como figura) pela Igreja. Pode-se comparar o seu exemplo e as suas possibilidades com as da Igreja. Cada membro da comunidade de Israel é um tipo, um arquétipo de cada membro da comunidade da Igreja. Assim, como a cada israelita foi-lhes prometida a Terra de Canaã, a cada membro da Igreja, é prometido o acesso à Jerusalém Celestial. Assim como individualmente muitos israelitas não alcançaram a promessa, sendo que Israel a alçançou, mesmo a Igreja alçançando a promessa, muitos que estão contados entre o resgatados não a alçançarão. (2Pe 2.2).

Nas advertências dadas tanto por Paulo, como pelo remetende da espítola direcionada aos Hebreus, percebe-se uma preocupação em poupar os crentes do extravio. Essa preocupação, destaca a possibilidade de crentes se perderem e apesar disso, não existe o desejo por parte dos apóstolos de que se percam. Se os apóstolos eram homens inspirados por Deus, logo, podemos pensar que o desejo que deixaram explícito, implícito em seus cuidados, de que aqueles que poderiam cair, não caíssem, também era o desejo do Senhor. E, se o era o desejo de Deus, que os crentes não caíssem, fica evidente através da advertência dos apóstolos, de que crentes os quais Deus não deseja que caiam, cairão. Logo podemos pensar, com base bíblica, que nem toda vontade de Deus é estabelecida. É sobre essa questão que por agora abordaremos.

2. Vontade absoluta e vontade flexível de Deus.

É consenso entre boa parte de grupos cristãos o juízo sobre soberania de Deus. Apesar de o pensamento a respeito da soberania ser aceito por boa parte dos cristãos, a conceitualização ou noção dessa ideia não é tão homogênia. Enquanto boa parte dos cristãos implicam soberania divina em total e absoluto domínio sobre todos os eventos, outra parte não envolve o conceito de soberania de Deus na ideia de domínio absoluto.

Apesar de alguns textos parecerem corroborar a tese de que um Deus soberano tem sua vontade cumprida sobre todos os aspectos, a visão holística das Escrituras não atesta esse pressuposto. Podemos perceber nas Escrituras aspectos distintos da vontade de Deus, a saber:

Vontade absoluta, vontade última ou vontade definitiva. Podemos tratá-la também como vontade estrita; ou com qualquer termo que denota determinação rigorosa e irremovível.
Vontade flexível, vontade condicional ou vontade não absoluta. Podemos tratá-la também com qualquer termo que denota condições; (p.ex.: liberdade sob condições, ou salvo se; uma vez que, conquanto que...)


A afirmação de Jó nenhum dos seus planos podem ser frustrados (Jó 42.2) está relacionada ao aspecto absoluto, estrito, exato da vontade de Deus. Ele fala sobre a vontade última de Deus que não sofre interferências nem mesmo do próprio Deus. Quando Moisés afirma que Deus prometeu uma terra ao povo de Israel e o apóstolo Pedro afirma que a Igreja é a nação Eleita - relacionamos o desejo de Deus em dar a Terra Prometida a Israel e de eleger a Igreja como seu povo Santo a vontade definitiva de Deus, ou seja, é um desejo definitivo e isso significa dizer que nada mudará esse seu desejo e, por conseguinte, ele se realizará. Porém, o desejo de Deus, de que, exatamente, todos sejam salvos, tanto a totalidade de Israel, quanto da igreja está relacionado a vontade flexível de Deus, não sendo apresentado como vontade rigorosa. Quando lemos “Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (Mateus 23.37) percebemos claramente a vontade flexível de Deus. Deus gostaria que seu povo acolhesse seu desejo, porém, permitiu que o povo exercesse seu livre arbítrio para não acolher a sua vontade.
A vontade Flexível de Deus ainda pode ser percebida nas seguintes passagens:


“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” (João 1.11).

“Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas?"(Is 5.4).

“Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada como vide estranha?” (Jeremias 2:21).

“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais.” (At 7.51)

Percebe-se nas passagens bíblicas citadas que apesar do desejo de Deus e de seu empenho em torná-lo concreto, sua vontade não foi realizada. Ele deseja, porém, não fez de seu desejo um imperativo categórico.

2. 1. Visão holística da vontade flexível de Deus nas Escrituras.

Interpretando cada passagem bíblica levando em consideração a integralidade holística das Escrituras, com muita clareza perceberemos a realidade de um Deus que em muitas situações manifesta vontades flexíveis, vontades que em muitas situações podem ser resistidas pelo homem.

O Antigo Testamento ilustra-nos com muitos fatos e detalhes a relação flexível entre Deus e Israel. Narra-nos as calamidades e os castigos sofridos pelo povo israelita por conta dos seus constantes e intencionais desvios do propósito de Deus. Conta-nos também, a trajetória de profetas humilhados pelo povo, que insistia em rejeitar a mensagem de Deus, e a consequente punição de Deus contra aqueles que o resistiam e o desobedeciam. Diante disso, podemos questionar: se Deus punia aqueles que lhes desobedecia, sua vontade pode ser considerada flexível? Se pensarmos por vontade flexível como a aceitação passiva e resignada a toda e qualquer manifestação contrária, a afirmação faz sentido. Porém, se entendermos o termo vontade flexível, como permissão a resistibilidade da vontade, a objeção não se mantém.

Apesar do desejo de Deus, muitas de suas orientações não foram acolhidas. A própria aproximação de Deus com o povo de Israel, firmada por uma aliança, deixa-nos bem claro a realidade da vontade flexível de Deus, pois o próprio conceito de aliança evidencia a possibilidade de desacato, ou seja, a possibilidade da quebra do pacto ou da aliança, como bem esclarece Dr. Vic Reasoner em seu artigo An arminian covenant theology (Uma teologia arminiana do pacto). (1)

Como já destacamos, não é necessário maiores esforços para perceber nas Escrituras a vontade flexível de Deus. Por tão explícita, dispensa-nos do trabalho de rigorosas e diretas citações textuais, bastando-nos lembrar que conceitos como prêmio, ameaça, punição, quando pronunciados na relação Deus e homem só fazem sentido diante da vontade flexível, pois, se toda vontade de Deus fosse vontade absoluta, logo seu desejo seria por si só, concretude, dispensando prêmios, ameaças e punições, que pressupõem, respectivamente, obediência e desobediência voluntária.

Em poucas palavras tentamos esclarecer a realidade da vontade flexível de Deus, mostrando biblicamente que há desejos de Deus que não são integralmente realizados, porém, não podemos nos dar por satisfeitos deixando de tratar biblicamente o também bíblico, conceito de vontade absoluta de Deus. Doravante, é sobre essa questão que iremos abordar.

2.2. Visão holística da vontade absoluta de Deus nas Escrituras.

Se as Escrituras atestam como fato de que é possível que algumas vontades de Deus não se realizem, o que significa dizer, que existe uma disposição em Deus em permitir que algumas de suas vontades sejam resistidas, ou seja, que existe o que tratamos como vontade flexível de Deus, isso não significa, ou melhor, está longe de significar que em Deus não existe vontade absoluta, ou em outras palavras, vontade definitiva ou rigorosa. Sim, as Escrituras também apontam para a realidade de uma vontade absoluta de Deus, uma vontade que pelo seu caráter não poderá deixar de se realizar.

Nas Escrituras vemos em várias passagens o fato de Deus firmou uma aliança com alguns homens ou povos. Por exemplo, a partir de Abraão, através de uma aliança, Deus estabeleceu um pacto com os patriarcas estabelecendo que suas sementes seriam abençoadas entre todas as nações da terra. À Abraão, Deus prometera que ele sereia pai de nações, e em Isaque, seu filho estabeleceria uma aliança perpétua para a sua descendência e depois dele (Gn 17:19). Reafirmando o pacto, através de um anjo disse o Senhor a Abraão:

Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz. (Gn 22. 17,18)


Podemos observar, que o pacto entre Deus e Abrão, só foi efetivamente firmado porque ele se comportou da maneira em que Deus desejava, ou seja, Abraão obedeceu sua voz. A partir daí, a aliança finalmente é firmada. A partir da obediência do patriarca, ficou estabelecido que através de sua descendência todas as nações da terra seriam benditas.

Quando Deus refaz a promessa a Isaque, filho de Abraão, de que ele teria uma numerosa descendência que iria possuir terras, e que através dela, os demais povos seriam abençoadas, ele coloca como lembrete que a benesse que ele herdará é uma confirmação de seu juramento à Abraão, porquanto, disse Deus: “Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.” (Gn 26.5)

Quando observamos a aliança, passamos a conhecer seus termos, regras estabelecidas das quais os patriarcas e sua descendência deveriam seguir. A aliança deveria ser guardada, deveria ser observada, como bem podemos observar:

Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti. (Gn 17.10)

Continuando a odisséia patriarcal, chegamos a Jacó, que se tornaria Israel. Mais uma vez Deus relembra de sua aliança, agora destacando que essa promessa está ligada a aliança estabelecida com Abraão e Isaque.

Eu sou o Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos;
E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra. (Gn 35. 11,12).


Em um dado momento, já sob a liderança de Moises, Deus propõe o extermínio do povo para fazer de Moises uma grande nação. Diante dessa proposta, o Israelita que viveu no Egito afirma:

Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, os teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas dos céus, e darei à vossa descendência toda esta terra, de que tenho falado, para que a possuam por herança eternamente. (Êx 32.13)

Por mais que Deus partisse do zero, fazendo de Moisés pai de uma grande nação (Ex 32.10), não estaria quebrando sua aliança com os patriarcas, pois Moisés, filho de Anrão, tinha por raiz Levi, portanto filho de Israel. Porém, independente disso, lutando pela continuidade dos filhos de Israel ele evoca a aliança de Deus estabelecida com os patriarcas Abraão, Isaque e Israel.

Por que recorremos à odisséia patriarcal de Israel num tópico que visa demonstrar biblicamente a realidade da vontade absoluta de Deus?

Na evocação de Moises à Aliança Patriarcal – percebe-se claramente a vontade absoluta de Deus que jamais será desfeita. Recorrendo a Aliança, Moisés tinha essa ideia como pressuposto. Ou seja, se Deus prometeu firmando sua promessa através de uma aliança, essa promessa será cumprida. Como vontade absoluta de Deus vê nesse pacto, que um povo deveria ser estabelecido sendo o abençoador de todas as nações. A culminância da aliança já está cumprida em Jesus Cristo, filho de Judá, luz para a revelação aos gentios e para a glória do teu povo de Israel.(Lc 2. 32).

Sem nenhuma dúvida – a vontade de Deus estabelecida como promessas jamais será desfeita. Esse é um dos traços da vontade absoluta que podemos compreender. O que Deus prometeu será; Sua palavra de é irrevogável.

3.0 Harmonizando os conceitos.

Apesar do uso de termos complexos que tentam teorizar a vontade de Deus, não existe em Deus uma desarmonia de sentimentos. Não há em Deus um aspecto que se separa do todo. Tudo em Deus está em harmonia com seu caráter amoroso, justo, reto e santo. Nada em Deus é dissociado, Ele não pode negar-se a si mesmo.

Os conceitos abordados servem apenas para entendermos que apesar de que nem tudo está rigidamente estabelecido nada está fora do controle de Deus. Com isso queremos dizer, que até a desobediência a sua vontade ocorre por sua permissão, instaurada por uma vontade prévia de estabelecer com sua criação um relacionamento verdadeiro baseado no amor, que dispensa o domínio sobre a vontade do outro.

Não existe choque de vontades. A vontade absoluta de Deus será e sempre será, e a sua vontade flexível ocorrerá sob certas condições que Ele mesmo absolutamente desejou. Por exemplo, desejou que todos se salvassem, porém, absolutamente desejou que só se salvariam pela fé, em Cristo Jesus.

Pode parecer contradição o fato de que alguns de Israel não herdarem a Terra prometida, ou seja, não receberem as bênçãos da posse de terras, prometido aos patriarcas a nação que sairia de suas sementes. Porém não é uma contradição, vemos aqui a dualidade harmônica da vontade de Deus. Percebemos que sua vontade absoluta foi estabelecida, ou seja, uma nação, da semente dos patriarcas herdou Canaã. Porém, apesar da vontade absoluta, vemos a restrição, em todos participariam individualmente da alegria da posse da Terra. Apesar do desejo de salvar o povo (Ex 6.8), cada indivíduo a exemplo dos patriarcas deveria observar a aliança para não violá-la. Os que violaram não herdaram. Apesar da vontade de Deus de que entrassem - essa vontade não era absoluta, seria concretizada pelos mesmos termos que Deus estabeleceu ao patriarca Abraão, ou seja, a obediência (Gn 26.06).

O mesmo ocorre com a Igreja. Deus estabeleceu que a Igreja, a nação santa, a raça eleita, alcançaria a Jerusalém celestial. Esse estabelecimento é a vontade absoluta de Deus, porém, isso não significa que todos que participam dela, alcançarão, mesmo sendo vontade de Deus. Essa vontade é uma vontade flexível para que seja realizada integralmente, faz-se necessário que as partes cumpram os termos estabelecidos. (Ap 2.5; 3.20).

Conclusão.

Antes de concluir nossa linha argumentativa, não podemos deixar de explicitar nosso limite em relação ao conhecimento. Tudo o que falamos são conjecturas, talvez desenvolvidas como fruto da influenciem da cultura ocidental, que após os gregos, a tudo tenta sistematizar. Somos filhos dessa herança. Porém, não podemos fazer dessa sistematização uma verdade absoluta. Não devemos de forma alguma nos arrogar alcançadores da realidade, pois como Paulo - percebemos que “agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. “(1 Co 13.12).

Em sintonia com o apóstolo, apesar de, como filhos culturais da Grécia, conjecturarmos e especularmos sabemos que tudo o que conceituamos enquanto não for realmente esclarecido, está no campo apenas hipóteses e sob essa realidade nos mantemos humildes, sabendo que nosso entendimento e a adoção dele não é fundamental para a vivência de uma vida cristã autentica. Mas, mesmo diante dispensabilidade de nossa visão, por outro lado, não devemos negar a satisfação de nossas dúvidas e de nossa carência pelo conhecimento. Crendo que Deu dará a cada um segundo as suas obras, entendo que se fartará de respostas aquele que muito pergunta sobre Deus e sua realidade tendo como norte as Escrituras e como impulso a mente, sempre sintonizada com o Espírito Santo, que gradualmente nos levará ao fundamento da verdade.

Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém. (2 Pedro 3:18)

Lailson Castanha
______
(1)
http://teologiaarminiana.blogspot.com/2009/01/uma-teologia-arminiana-do-pacto.html

Gravura: Cristo Bizantino, mosaico do século XII, na catedral de Palermo, originário da catedral de Cefalu.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os planos de Deus podem ser frustrados?

Os planos de Deus podem ser frustrados?

Márcio Rosa da Silva*

Será que é possível frustrar algum plano de Deus? Será que é possível Deus desejar algo para alguém e isso não acontecer? Será que os planos de Deus podem ser frustrados? A resposta é sim. A Bíblia está cheia de relatos de algo que Deus desejou para alguém, mas aquilo acabou não acontecendo.

Alguém pode objetar perguntando׃ Mas Deus não tem todo o poder? É evidente que sim, mas a vontade de Deus não se impõe pela força e sim pelo amor.

Uma vez, Jesus contemplou Jerusalém e disse: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (Mateus 23.37). Ora, esse texto deixa bem claro que o Senhor quis algo para os seus filhos, mas eles não quiseram. Frustraram os planos de Deus para eles naquele momento.

Ou acreditamos que Deus realmente nos dá liberdade, inclusive de rejeitá-lo, ou de fato não há liberdade alguma e somos marionetes, sem nenhum poder de decisão.

O que vejo na Bíblia é um Deus amoroso, sempre tomando a iniciativa, sempre nos cercando, mas sempre esperando, nunca se impondo. Quando nos voltamos para ele, a esperança de Deus se concretiza, quando o rejeitamos, sua esperança fica frustrada.

Por isso que a figura do pai do filho pródigo é tão importante para mostrar o caráter de Deus. Que libera o filho rebelde, mas está sempre esperando sua volta, e quando ele volta, o recebe com festa.

Assim é Deus, ele espera ser amado por quem ele é, não porque ele nos obriga. Se ele nos obrigasse a amá-lo esse amor não teria valor algum, porque amor sem liberdade não é amor. Amor com base na força e na ameaça não é amor. Amor com base no medo não é amor, porque no amor não há medo.

Pensemos juntos: será que é plano de Deus que um jovem destrua sua própria vida nas drogas? Que uma jovem venda seu corpo, se prostituindo pelas ruas? Será que Deus determinou que um criminoso estuprasse e matasse uma criança inocente? Isso era plano de Deus? Claro que não!

O plano de Deus, o desejo de Deus é que toda pessoa o conheça e desfrute do seu amor. O plano de Deus é que a paz e a justiça sejam estabelecidas na Terra. O chamado de Deus é que queiramos ser participantes de seus planos, para que estes não restem frustrados.

Por mais que haja pessoas que frustrem os planos de Deus, agindo muito diferente daquilo que ele espera e deseja, creio que sempre haverá pessoas que compartilharão dos sonhos de Deus e serão parceiros dele no estabelecimento de seu Reino. Espero estar fazendo parte desse grupo de pessoas.

*Márcio Rosa da Silva:

Casado com Viviane.

Pastor na Igreja Betesda da cidade de Boa Vista, Estado de Roraima.

Formado em Direito.

Membro do Ministério Público do Estado e professor de Direito em Boa Vista.

Gerecia o Blog Inquietações de um aprendiz no endereço: http://marciorosa.wordpress.com/

Foto: Marcio Rosa da Silva.
______
Fonte: http://marciorosa.wordpress.com/2009/03/21/os-planos-de-deus-podem-ser-frustrados/#comment-667
Minha foto
Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

Arquivo do blog

Visitas:

Visitantes online:

Seguidores