Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

SOBRE O ARREPENDIMENTO PELO QUAL OS HOMENS RESPONDEM A VOCAÇÃO DIVINA

DISPUTA XLIII
SOBRE O ARREPENDIMENTO PELO QUAL OS HOMENS RESPONDEM A VOCAÇÃO DIVINA

Jacobus Arminius

Como, em matéria de salvação, aprouve a Deus tratar com o homem pelo método de um pacto, ou seja, por uma estipulação, ou uma exigência e uma promessa, e como ainda considera a vocação de uma participação na aliança; é instituído, em ambas as partes e em separado, que o homem pode cumprir a requisição ou ordem de Deus, pelo qual ele pode obter [o cumprimento] de sua promessa. Mas esta é a relação mútua entre os dois - a promessa é equivalente a um argumento, empregado por Deus, que ele pode obter junto ao homem o que ele exige, e o cumprimento da demanda, por outro lado, é a condição, sem o qual o homem não pode obter o que foi prometido por Deus, e através do [do desempenho] qual ele certamente obtém a promessa. II. Por isso, é evidente que o primeiro lugar que acolhe esta vocação é a fé, pela qual o homem crê que, se ele está em conformidade com a exigência legal, ele irá desfrutar da promessa, mas que se ele não cumpri-la, não será colocado em posse das coisas prometidas, ou melhor, que os males contrários serão infligidos a ele, de acordo com a natureza da aliança divina, em que não há nenhuma promessa, sem uma punição oposta a ela. Esta fé é o fundamento sobre o qual repousa a obediência que deve ser rendida a Deus, e é, portanto, o fundamento da religião. III. Mas os teólogos geralmente colocam três partes nesta obediência. A primeira é o arrependimento, pois é o chamado de pecadores para a justiça. A segunda é a fé em Cristo e em Deus através de Cristo, pois, vocação é feita por meio do evangelho, que é a palavra da fé. A terceira é a observância dos mandamentos de Deus, em que consiste a santidade de vida, para qual os crentes são chamados, e sem a qual ninguém verá a Deus. IV. O arrependimento é o pesar ou tristeza por conta dos pecados conhecidos e reconhecidos, a dívida da morte contraída pelo pecado, e por conta da escravidão do pecado, com o desejo de ser libertado. Por isso, é evidente, que as três coisas concorrem em penitência - a primeira como um antecedente, a segunda como uma consequência, e a terceira como corretamente e mais plenamente compreendendo sua natureza. V. O que equivale a um antecedente é o conhecimento ou reconhecimento do pecado. Este consiste de um conhecimento duplo: (1.) Um conhecimento geral pela qual se sabe o que é o pecado universal e de acordo com a prescrição da lei. (2). Um conhecimento particular, pelo qual se reconhece que o pecado havia sido cometido, tanto a partir de uma lembrança das más ações cometidas e do bem omitido e da análise deles de acordo com a lei. Este reconhecimento tem, unido com ele, a consciência de um duplo demérito, da condenação ou morte, e da escravidão do pecado, "porque o salário do pecado é a morte," e "ele que comete pecado é escravo do pecado. “Este reconhecimento é interno e feito na mente, ou é externo, e recebe a denominação de “confissão.” VI. O que intimamente compreende a natureza do arrependimento é, o pesar por conta do pecado cometido, e de seu demérito, que é muito mais profundo, como o reconhecimento do pecado é mais claro, e mais abundante. Também é produzido a partir deste reconhecimento, por meio de um temor duplo de punição:. (1). Um temor não só de corpo e punição temporal, mas também daquilo que é espiritual e eterno. (2). O temor de Deus, pelo qual os homens temem o julgamento desse bom e reto ser, a quem ofenderam por seus pecados. Este temor pode ser corretamente chamado de "inicial", e acreditamos que há alguma esperança a ele anexada. VII. O que se segue como consequência, é o desejo de libertação do pecado, isto é, a partir da condenação do pecado e do seu domínio, qual desejo é tanto mais intenso, por quanto maior é o reconhecimento de miséria e tristeza por causa do pecado. VIII. A causa desse arrependimento é Deus por sua palavra e Espírito em Cristo. Pois é um arrependimento que tende a não se desesperar, mas para a salvação, mas tal não pode ser, exceto com relação a Cristo, em quem, só, o pecador pode obter livramento da condenação e do domínio do pecado. Mas a palavra que ele usa no início é a palavra da lei, mas não sob a condição jurídica peculiar à lei, mas sob o que está anexa a pregação do Evangelho, do qual a primeira palavra é que a salvação é declarada a penitentes. O Espírito de Deus pode, não impropriamente, ser denominado "o Espírito de Cristo", assim como é mediador, e exorta primeiro o homem pela palavra da lei, e, em seguida, revela-lhe a graça do evangelho. A ligação da palavra da lei e do evangelho, que é, assim, habilmente feita, remove toda a autossegurança, e proíbe o desespero, que são as duas pragas da religião e das almas. IX. Nós não reconhecemos a satisfação que os papistas fazem ser a terceira parte de arrependimento, ainda não negamos que o homem que é um verdadeiro penitente procurará dar satisfação a seu próximo contra quem ele confessa que pecou, e a igreja que ele feriu pela sua ofensa. Mas a satisfação, de forma alguma, pode ser prestada a Deus, por parte do homem, pelo arrependimento, tristeza, a contrição, a esmola, ou pela recepção voluntária e imposição de punições. Se tal curso foi prescrito por Deus, as consciências dos homens devem necessariamente ser atormentadas com a angústia contínua de um inferno ameaçador, não menos do que se nenhuma promessa de graça tinha sido feita para os pecadores. Mas Deus considera esse arrependimento, que já descrevemos, sendo ele verdadeiro, digno de uma libertação graciosa do pecado e da miséria; e tem a fé como consequência, sobre o qual iremos tratar na disputa subsequente.

COROLÁRIO: Arrependimento não é um sacramento, seja com relação a si próprio, ou em relação aos seus símbolos externos.

Tradução: Lailson Castanha
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Works of Arminius Vol. 2

SOBRE A FÉ EM DEUS E CRISTO

DISPUTA XLIV
SOBRE A FÉ EM DEUS E CRISTO

Jacobus Arminius

Na disputa anterior, temos tratado na primeira parte da obediência que se rendeu à vocação de Deus. A segunda parte segue agora, que é chamado de "obediência da fé". II. Fé, em geral, é o acolhimento dado à verdade e fé divina é a que é dada a verdade revelada por Deus. A base sobre a qual repousa a fé divina é dupla - uma externa e de fora ou além da mente - a outra interna e na mente. (1.) O fundamento externo da fé é a veracidade de Deus, que faz a declaração, e que nada pode declarar que é falso. (2.) A base interna da fé é dupla - tanto a ideia geral por que sabemos que Deus é verdadeiro - e do conhecimento pela qual sabemos que é a palavra de Deus. Fé é também dupla, de acordo com o modo de revelação, sendo legal e evangélica, da qual esta última está sob nossa consideração presente, e se inclina a Deus e a Cristo. III. A fé evangélica é um assentimento da mente, produzida pelo Espírito Santo, por meio do evangelho, nos pecadores, que, através da lei, conhecem e reconhecem seus pecados, e são penitentes por conta deles, por que eles não estão apenas totalmente convencidos dentro de si que Jesus Cristo foi constituído por Deus, o autor da salvação àqueles que lhe obedecem, e que ele é seu próprio salvador se eles crerem nele, e pelo qual também acreditam nele como tal, e através dele em Deus como o Pai benevolente nele, para a salvação dos crentes e para a glória de Cristo e de Deus. IV. O objeto da fé não é apenas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, mas também o próprio Cristo constituído por Deus, o autor da salvação para aqueles que lhe obedecem. V. A forma é o consentimento que é dado a um objeto dessa descrição, que o parecer favorável não é adquirido por um curso de raciocínio a partir de princípios conhecidos por natureza, mas é um assentimento infundido acima da ordem da natureza, que, no entanto, é confirmado aumentando os exercícios diários de oração e mortificação da carne, e pela prática de boas obras. O conhecimento é antecedente à fé, porque o Filho de Deus é contemplado antes de um pecador crer nele. Mas confiar ou confiança é consequente a ela, pois, por meio da fé, a confiança é colocada em Cristo, e através dele em Deus. VI. O autor da fé é o Espírito Santo, a quem o Filho envia do Pai, como seu advogado e suplente, que pode reger sua causa no mundo e contra ele. O instrumento é o evangelho, ou a palavra da fé, contendo o significado a respeito de Deus e de Cristo que o Espírito apresenta ao entendimento, obrando uma persuasão. VII. O sujeito no qual reside, é a mente, não só como ela reconhece esse objeto sendo verdadeiro, mas também sendo bom, qual a palavra do evangelho declara. Portanto, pertence, não só a compreensão teórica, mas igualmente ao dos afetos, que é prático. VIII. O sujeito ao qual [é dirigido], ou o objeto sobre o qual [é ocupado], é o homem pecador, reconhecendo seus pecados, e penitente por causa deles. Pois que esta fé é necessária para a salvação de quem crê, mas é desnecessária para quem não é pecador, e, portanto, ninguém, exceto um pecador, pode conhecer ou reconhecer a Cristo por seu salvador, pois ele é o salvador dos pecadores. O fim, o que pretendemos para o nosso próprio benefício, é a salvação em sua natureza. Mas o fim principal é a glória de Deus através de Jesus Cristo.

COROLÁRIO: "Foi a fé dos patriarcas nas alianças da promessa, a mesma que a nossa, sob o Novo Testamento, no que diz respeito a essência?" Nós respondemos afirmativamente.

Tradução: Lailson Castanha
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Works of Arminius Vol. 2

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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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